No último dia 18, o Senado concluiu a votação do projeto que regulamenta o pagamento das emendas parlamentares, trazendo à tona um debate crucial sobre a transparência no uso de recursos públicos e a autonomia do Congresso. A proposta, que já havia sido aprovada na Câmara, passou por algumas alterações significativas e promete redefinir a relação entre os parlamentares e o Executivo, além de impactar diretamente a forma como os recursos orçamentários serão utilizados nos próximos anos.
A grande mudança no projeto está na retirada do termo “bloqueio”. No texto original, estava prevista a possibilidade de o Executivo bloquear os recursos das emendas em casos de necessidade de ajustes fiscais. A medida, no entanto, gerou uma grande resistência no Senado, com parlamentares temendo que ela fosse uma forma de confisco das verbas, permitindo ao governo federal agir de maneira discricionária e sem prestar contas ao Legislativo. A votação foi apertada, mas a maioria dos senadores se posicionou contra o bloqueio, aceitando apenas o “contingenciamento”, ou seja, o corte temporário e proporcional dos recursos.
Essa mudança, embora pareça técnica, tem um peso simbólico enorme. O bloqueio, se aprovado, significaria um retrocesso na independência do Congresso. As emendas parlamentares, que se tornaram impositivas a partir de 2015, garantem que os parlamentares possam indicar ao governo como uma parte dos recursos do orçamento será distribuída. Isso serve como uma válvula de escape para o Legislativo exercer sua autonomia em relação ao Executivo. Retirar essa possibilidade de bloqueio foi, portanto, uma vitória para os parlamentares, que reafirmaram o controle sobre os recursos destinados a suas bases eleitorais.
Outro ponto importante foi a questão das emendas de comissão, aquelas apresentadas pelas comissões temáticas do Congresso. O projeto original determinava que, no mínimo, 50% dessas emendas deveriam ser destinadas para a saúde. Essa regra foi criticada por muitos, que argumentaram que ela poderia prejudicar outras áreas importantes, como educação, infraestrutura e cultura. No final, os senadores retiraram a obrigatoriedade, permitindo maior flexibilidade na alocação dos recursos, o que reflete a pressão de diversas bancadas que têm interesses em outras áreas.
A definição dos limites para as emendas parlamentares também passou por ajustes. As emendas de bancada, que são coletivas e destinadas a estados, não poderão ultrapassar 1% da receita corrente líquida do ano anterior, enquanto as emendas individuais não poderão superar 2%. Esses limites visam garantir um controle maior sobre o crescimento das emendas, sem prejudicar a capacidade dos parlamentares de influenciar o orçamento de seus estados e municípios.
No fundo, as mudanças são uma tentativa de manter o equilíbrio entre as necessidades fiscais do país e as demandas dos parlamentares por mais recursos para suas bases. O desafio é encontrar um meio-termo onde a transparência e o controle social sejam respeitados, sem que isso implique em um enfraquecimento do poder do Congresso sobre o orçamento. O que fica claro é que, embora o projeto tenha sido ajustado para garantir mais controle do Legislativo, a luta por mais transparência e um uso mais responsável dos recursos públicos ainda está longe de ser vencida.
Em um país com tantos problemas fiscais, é essencial que cada centavo do orçamento tenha sua destinação justificada e acompanhada de perto pela sociedade. Por isso, a proposta de regulamentação das emendas parlamentares, mesmo com suas imperfeições, é um passo necessário, mas ainda longe de ser a solução definitiva para os problemas estruturais do orçamento público no Brasil.