Por: Grazielle Guimarães
O filho do Sr. Érvin e da D. Teonila Schumacher sabe o que é trabalhar na roça e ter disciplina com a vida profissional e familiar. O jovem esforçado, como ele mesmo se define, trabalhou, cresceu, estudou e se tornou o empresário responsável pelo maior retorno de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de Guabiruba.
Casado com Jakeline, é pai de duas moças e um rapaz e avô que aguarda ansioso a chegada do segundo neto. Juliano Schumacher, 60 anos, fundador e presidente da Guabifios, é o entrevistado do Guabiruba Zeitung desta semana.
Guabiruba Zeitung: Como você se definiria?
Juliano Schumacher: O Juliano é um rapaz esforçado [risos], que desde cedo aprendeu a trabalhar numa cidade onde a agricultura era a fonte de renda principal. Na minha casa,era parecido, mas com um pequeno diferencial. Meu pai sempre associou agricultura ao comércio: ele negociava de tudo um pouco. Animais, que na época ele comprava e vendia, eventualmente terras. Era um pouco banco, emprestava um dinheirinho para os amigos, porque na época o acesso ao sistema financeiro era restrito à empresas ou a pouquíssimas pessoas, então, essa figura de alguém que emprestava dinheiro a juros existia e meu pai fazia isso, moderadamente, mas fazia.
Essa veia comercial esteve sempre presente na nossa família. A ascendência do meu pai tem um pouco de comerciantes, a da minha mãe era mais industrial, mas na época as mulheres tinham um tratamento diferenciado dos homens. Elas não eram criadas para o trabalho comercial e sim para serem donas de casa.
Trabalhei desde muito cedo na roça, até os 17 anos, quando comecei a trabalhar de balconista numa loja de ferragens e material elétrico, na época da Renaux. Aprendi muito neste ano e na sequência, através de concurso interno, passei para trabalhar no escritório e desempenhei por mais 17 anos as mais diversas atividades administrativas, o que foi um grande aprendizado. Em 1991, mesmo trabalhando na Renaux, fundamos uma empresa, eu e meu sobrinho Marcelo [Kohler], que hoje lidera a Mc’Jo e trabalhamos como sócios de 1991 a 2004. A partir de 2005, cada um seguiu voo solo.
Uma empresa é o espelho do dono, principalmente sendo familiar. A gente sempre primou pela retidão e honestidade. Princípios que os nossos pais, na época, com uma educação até um pouco rígida, principalmente pros modelos atuais, onde a liberdade é muito presente e às vezes está com um pouco de excesso, ou seja, muitos direitos e poucos deveres. Nossa empresa cresceu com esse conceito de retidão, preocupada também com a sociedade. Dentro do possível, a gente sempre ajuda as entidades.
Respeitamos muito o mercado e somos o mais eficiente possível, porque hoje o mundo é muito ligeiro. O concorrente passa por cima daquele que deixa para amanhã. No passado, o mercado não tinha esse dinamismo. Você podia cometer erros e a vida seguia, dava uma derrapada e seguia em frente. Hoje, qualquer erro tem se mostrado fatal, então, eu uso a expressão de que “se você deixar a guarda aberta, ou abrir a guarda, você pode levar um golpe que te levará a nocaute”. Graças a Deus eu conto, já há alguns anos, com a colaboração do meu casal de filhos mais velhos que ajudam na administração e me deixam em uma situação mais confortável de não me preocupar com tudo. Sou um pouco mais estrategista, o pensador, digamos assim. Não mais dedicado às atividades do dia a dia.
Tive a felicidade ou a competência de educar meus filhos do jeito que eu considerei certo e hoje tenho pouca ou nenhuma queixa do comportamento deles. Isso é uma virtude, uma satisfação antes de qualquer outra coisa.
GZ: A Guabifios tem um nome forte não apenas no município, mas na região e no país. A que o senhor atribui essa solidez?
JS: Ao bom atendimento. Como eu falei à pouco, temos alguns princípios e critérios e um deles é não deixar nada para amanhã. Resolver tudo hoje com total eficiência e isso é uma marca latente. Os nossos funcionários agem assim, os nossos vendedores agem assim e isso é reconhecido no mercado. A Guabifios tem um renome nacional e eu diria até mundial, porque é conhecida nas regiões produtoras que importa. Basicamente, 85% do nosso comércio é de fios importados e na área dos nossos principais fornecedores somos reconhecidos.
GZ: Para ser grande é preciso primeiro ser pequeno. Como foi ver uma empresa pequena se tornar uma grande empresa?
JS: O Juliano não mudou. O Juliano nunca gastou o que ele não teve. Então, sempre foi uma premissa minha primeiro formar o bolo para depois tentar reparti-lo. Sempre tive conta corrente distinta de pessoa física e jurídica para jamais misturar as coisas. E isso é um conselho que eu dou para qualquer pequeno empreendedor. Tenha no mínimo duas contas, a física, que é o teu pró labore e a retirada necessária para viver e não a misture com as contas da empresa, que os volumes são outros, óbvio que pela movimentação que ela gera mas movimentação não é lucro, movimento não é sobra de caixa.
GZ: No início do ano havia uma grande expectativa com a mudança de governo federal. Qual sua avaliação desse 1º semestre?
JS: Nós não somos exceção. Começamos o ano com muito otimismo e apostando muito no crescimento da economia e nas mudanças do modus operandis do governo que, até então, foi efetivamente socialista de esquerda e não comungamos com esta tese. Para haver uma repartição de valores para que haja melhor distribuição de renda, primeiro é necessário gerar riqueza.
É igual uma empresa que você constitui: se você começar a gastar todo o movimento que entra, todo lucro, a empresa não cresce. É igual com o governo. O governo simplesmente gastou e se endividou. Como qualquer pessoa física como qualquer pessoa jurídica, o governo não é diferente. Depois que se está endividado, pra você sair dessa ciranda não é fácil. O que mais me preocupa, voltando para este ano, é que nós apostamos, como todo mercado. Janeiro foi excepcional, mas nos últimos três meses sentimos uma retração forte. O mercado deu uma estagnada, mas ainda acreditamos num crescimento. Projetamos um crescimento real de 12% neste ano e, por enquanto, estamos conseguindo atingir a meta. Continuamos otimistas para o 2º semestre, mas nos entristece ver a grande mídia conspirar contra o país.
É muito claro neste fato recente da invasão indevida de hackers em cima do [ex-juiz e agora ministro da justiça Sérgio] Moro e do [coordenador da força tarefa da operação Lava Jato no Paraná, Deltan] Dellagnol. Não quero aplaudir a atitude deles, mas eu assino embaixo. Porque se houve troca de informações, foi para o bem do país, para elucidar fatos e a gente vê a mídia usando isso o contrário e os “bandidos” que roubaram esse país, durante este tempo todo, festejando este fato novo e querendo tirar vantagem disso, eventualmente querendo criar nulidade jurídica sobre procedimentos, então, aquele Brasil que às vezes é conhecido lá fora como o país da safadeza, o país na lei do [ex-jogador da seleção brasileira da Copa de 1970] Gérson [de Oliveira Nunes] que citava a frase que a lei do Gérson “era levar vantagem em tudo”, isso se achava normal, e hoje o brasileiro é visto um pouco assim internacionalmente, como um oportunista, aquele que leva a vida na malandragem e para romper isso, é difícil.
Todos esses malandros, alguns juristas ou algumas mídias tendenciosas estão usando um fato novo para minar tudo de sério que se está tentando construir. Isso, para nós empresários é desestimulante. Quando tu vê a política, sabendo que mudanças são necessárias e indispensáveis para o Brasil não quebrar, como teve países que quebraram, é só olhar em nossa redondeza ou um pouco mais para a Itália, são países que custam a se desenvolver. O caso específico agora da Argentina, houve um novo governo, não fez as reformas que precisavam porque não teve peso político, não conseguiu sair do lugar, pelo contrário, um país que está regredindo, então é um toma-lá-dá-cá.
GZ: Qual sua expectativa econômica para os próximos anos do governo Bolsonaro? JS: A gente está muito confiante que a reforma da previdência vai sair. Você como empresário ou você como pessoa tem que se motivar e hoje a motivação do empresário depende do que possa vir. A gente, às vezes, têm que até se iludir um pouco com a reforma da previdência, então, todas as fichas hoje estão sendo apostadas em que, transcorrendo a reforma da previdência, outras reformas virão e isso vai fazer o país voltar a crescer. A gente tem esta esperança e aposta estas fichas, se nada disso acontecer, coitado de nós.
Onde vamos encontrar inspiração ou motivação para o amanhã? Para esperar um amanhã de crescimento, um amanhã sem a preocupação de uma eventual inadimplência até do governo, que isso seria um caos para a Nação, não poder pagar aposentadoria, até o [programa] Bolsa Família, isso causaria miséria e fome. Não dá para descartar, porque parece que só vai na marra as coisas quando são políticas.
Precisamos urgente de uma reforma política, criar no máximo três ou quatro partidos. Você pode ter partido de esquerda, de direita, centro e intermediário, mas não além disso, hoje é um balcão de negócios.
Está um pouco decepcionante e desmotivador, porque se achava que o governo encontraria mais facilidade para as reformas tão urgentes e não quero creditar só ao congresso, o governo mostrou falta de habilidade também mas, nós sabemos que a previdência é a mãe das reformas, depois eu considero a reforma política como indispensável e a terceira é a tributária. Não adianta sonhar com a reforma tributária sem antes discutir pacto federativo, redistribuição de valores. Não podemos hoje arrecadar menos, é utopia pensar em reduzir a carga tributária as despesas já estão aí, temos que primeiro reduzir as despesas, acabar com a estabilidade do funcionário público, que no meu ponto de vista isso é um absurdo.
GZ: Você se sente um visionário?
JS: Honestamente, eu acho que tenho um QI acima da média. Se não fosse isso talvez a gente não teria chegado onde chegou. Agora, não basta ter QI se não tiver foco e concentração. Então, se você quer crescer não pode chupar cana e assoviar ao mesmo tempo. Tem que se dedicar àquilo que está fazendo. Trocando em miúdos, eu não posso ser empresário, prefeito, político e tudo ao mesmo tempo, eu vou perder foco. Não que eu não participe de entidades sociais, já fui presidente de núcleo da ACIB’r [Associação Empresarial de Brusque e região] e hoje estou passando para minha filha, mas tudo que você fizer, tem que fazer com dedicação. A partir do momento que eu tenho compromissos sociais todos os dias, eu não vou ter tempo para parar àquele momento e ter as ideias certas, no momento certo.
O mundo empresarial vive de ideias certas no momento certo. Óbvio que há experiência e feeling, mas isso só se adquire com o tempo e com a vivência. Se eu não tiver tempo para exercer esse feeling e esta vivência, eles não aparecem. Quantas idéias surgiram para mim durante a noite, quando eu estava sozinho, com espaço para refletir. Por isso é bom ter um bloquinho ao lado da cama para anotar os estalos e as soluções para os problemas. Tudo tem solução.
GZ: Você acabou de entrar no terceiro casamento. Que lições você destacaria nesta trajetória?
JS: O relacionamento a dois exige flexibilidade. Um cede daqui, outro dali e assim a vida junto é construída. Algumas vezes é preciso ter coragem para encerrar um ciclo e iniciar outro. É um pré- requisito do empresário ter coragem. Muitas pessoas aceitam um relacionamento eterno por não ter a coragem de romper, ou, às vezes, não ter condições de romper. Uso a seguinte metáfora: a pessoa está casada, tem um carrinho e uma casinha, mas o relacionamento não está bom. Ai não separa porque o carro, se cortar no meio, só têm duas rodas, não anda, e a casa não dá pra rachar no meio porque vai cair. Então, como não têm duas casas, não têm dois carros, acaba não se separando.
Covarde é aquele que não tenta. Eu quero sempre mais para minha empresa, sempre mais para mim. Eu sei que a vida passa muito rápido, mesmo com 60 anos eu acho que passou muito rápido. Graças a Deus sou um privilegiado. Tenho alguns amigos da época de colégio que já não estão mais nesse mundo, outros estão debilitados, então, a vida é muito curta para perder tempo.
Eu procuro a felicidade sempre, não tenho grandes extravagâncias. O que eu gosto é de um dominó, um happy hour, uma bebidinha com moderação, um relaxamento ao final do dia. Gosto de tênis, unindo o útil ao agradável, ou seja, a necessidade de praticar atividades físicas associada ao esporte. Eu sou muito competitivo. Não gosto de perder nem par ou ímpar. Então no esporte, seja no tênis que eu praticava e hoje devido uma lesão mudei para o beach tênis, você sempre compete e a competição para mim é prazerosa.
Na questão de relacionamentos eu atribuo mais a coragem e às vezes até a necessidade de adrenalina. Fazendo uma analogia com meu ídolo, o Schumacher, que tem o mesmo sobrenome que o meu, o cara saiu da Fórmula 1 e foi praticamente morrer numa estação de ski, motivado pelo que? Adrenalina do perigo. Talvez eu tenha um pouco disso e não seja tão conservador quantos muitos acham, ou seja, gosto de desafios.
GZ: Qual o maior desafio na sua trajetória?
JS: A maioria dos meus cabelos brancos e estresses da minha vida, que me deixou até doente, foi uma autuação tributária e uma condução errada da parte jurídica, que levou muitos anos para ser resolvida e eu paguei caro por isso. Paguei caro financeiramente e com minha saúde. Na época, houve efetivamente uma sonegação, mas no passado, a sonegação era o BNDS do pequeno [empresário]. Hoje não se sonega, mas era um mal necessário para crescer, um modus operandi. Eu estou falando de 30 anos atrás. Isso tudo também trouxe lições, uma delas é; fuja do judiciário. Advogado ganha com a tua desgraça. Não estou dizendo que é a regra, mas às vezes o advogado torce para o teu pânico, para depois vir como teu salvador e depois ele cobra. É a função dele.
GZ: Um sonho que ainda não conquistou?
JS: Honestamente sou grato a Deus porque não tenho frustração na vida. Tudo que desejei fui atrás e consegui, então não tenho nenhuma pendência. Esta é uma regra de vida minha: não ter pendências. Eu não deixo nada para amanhã. Se eu tiver uma pendência, eu não durmo, eu não sossego. Seja ela o que for. Uma coisa mal resolvida com alguém, uma necessidade, um desejo, uma pendência – seja ela qual for – eu preciso resolver e resolvo. Eu vou atrás e consigo.
GZ: O que você diria para alguém que busca chegar onde você está?
JS: Primeiro fazer as coisas com carinho e dedicação. Gostar do que se faz antes de qualquer coisa e fazer com propriedade. Tudo que você fizer com distinção, vai se destacar. Nada cai do céu. Dedicação, amor, gostar do que está fazendo são chaves para o sucesso e, antes de tudo, foco. Tem que ter foco no seu negócio. Todos os dias você tem que olhar pro teu negócio, olhar para o teu concorrente e pensar: o que eu posso fazer de diferente para me destacar?