Foto: David T. Silva

 

Muito mais do que assustar crianças, o Pelznickel é sobre aprendizado. Valores como gentileza, honestidade e respeito à família e ao próximo estão entre os principais ensinamentos da tradição. No costume, essas lições são o trabalho da Christkindl, uma mulher vestida de branco que entrega doces e orienta os pequenos sobre a importância do bom caráter. Em Guabiruba, quem ensina é a professora Aline, e as aulas acontecem tanto na escola, quanto na PelznickelPlatz.

O Pelznickel sempre fez parte da vida de Aline Siegel, 28 anos. Ela conta que a figura do Papai-noel do Mato está presente desde a infância morando na rua Pedro. “Desde que me recordo, o Pelznickel ia nos visitar no dia 24 de dezembro. A gente tinha uma roça de milho ao redor de casa, então quando o milharal começava a se mexer nesse dia, todo mundo já sabia que o Pelznickel tava chegando”, explica. 

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A longa história com a tradição não é somente como espectadora, é também como personagem. Aline é uma das mulheres que interpreta a Christkindl, a figura feminina  que representa a bondade do Natal. Christkindl, no dialeto alemão badense, significa “Menino Jesus”, e Aline veste a roupa branca desde os 13 anos de idade. “Muita gente diz que é a Mamãe Noel mas não é isso. Cada personagem carrega consigo uma finalidade. O nosso, como Christkindl, é falar sobre o bem”, diz ela.  

Aline conta que começou a vestir-se como Christkindl por acaso, quando o papel era de Vaneida Siegel, esposa do tio Fabiano e foi ele mesmo quem fez o convite. “Ele me ligou na casa da minha vó e disse que a Vaneida não ia poder ir, aí perguntou ‘não quer ir junto comigo hoje a tarde, passando nas casas e tal?’ e eu aceitei. Foi uma coisa que sempre gostei,” lembra. Ela fala que na época, a imagem da Christkindl ainda não era tão conhecida e quem acompanhava o Pelznickel, era o Papai-Noel vermelho, para amenizar o medo das crianças. “Era o Papai-Noel vermelho quem chegava primeiro e fazia esse meio de campo, então eu nunca tinha pensado em participar porque a figura feminina não era tão evidenciada naquele tempo”, relata. De lá para cá, já são quinze anos como Christkindl. 

Assim como Aline, a tradicional roupa branca da personagem também evoluiu com o tempo. “A primeira que eu usei, da Vaneida, era só uma túnica branca e um um capuz com abertura para os olhos. A boca se desenhava com batom vermelho e tinha uma luva com um dedo mais largo que o outro, até. Era tudo bem simples”, descreve. O traje mudou e hoje é assinado por Marcelo Carminati, mas a simplicidade continua a mesma. “Não tem isso de cordão dourado e muita alegoria porque é pra ser algo mais voltado pro mato, pra manter a essência”, justifica. Aline ressalta que toda a lenda baseia-se em coisas modestas, como a barba-de-velho na roupa dos próprios Pelznickels, então o processo foi cuidadoso em conservar a cultura.

Como professora, ela diz que a vivência em sala de aula ajudou na maneira de conversar com as crianças, por entender como cada faixa etária reage diante de um personagem, e revela que recebe muito apoio dos pais dos alunos. “Durante o ano, como já sabem, os pais falam ‘ó, ela é amiga do Pelznickel’ e isso é importante porque ajuda a divulgar o trabalho e continuar a tradição na cidade. A maioria vem pro Natal na PelznickelPlatz”, afirma. 

No evento, Aline é Christkindl em quase todas as noites, mas conta que passou a priorizar um dia “longe da personagem”, onde ela faz o caminho da PelznickelPlatz junto com os familiares. “Passei anos vindo só trabalhar e não conseguindo ver além da minha casinha. Hoje, eu venho com a minha família e é muito bom participar estando do outro lado também”, explica. 

Das lembranças favoritas, Aline destaca, emocionada, a visita de uma menina vestida como Christkindl, e das senhoras que lhe agradecem por valorizar a memória local. “Elas falam ‘eu era a Christkindl’ e ‘achei que ia morrer sem ver isso de novo’ e não existe coisa melhor porque o que a gente faz, é isso. É manter viva a história”, finaliza.

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