“Fico triste de dizer que fechamos e digo aos clientes: muito obrigado por estes anos todos que conviveram com a gente”

Foi confirmada esta semana uma notícia que entristece a comunidade guabirubense. Presente durante toda a história da cidade, a família anunciou o fechamento permanente do Restaurante Schumacher, localizado no centro do município. 

Em 2019 a empresa familiar havia desmentido boatos de possível fechamento. No final de 2022, o restaurante tinha fechado sem previsão de reabertura e a suspensão definitiva das atividades foi confirmada agora pelo ex-prefeito Orides Kormann, filho de Renata Schumacher Kormann, que até o ano passado administrava o local com um dos filhos.

Considerado um dos principais pontos turísticos da cidade, o local ganhou fama nacional e internacional pela excelência no atendimento e pelos pratos típicos da culinária alemã, como eisbein (joelho de porco), chucrute e o carro chefe, o tradicional marreco recheado. 

Com uma média de 2,5 mil pessoas por mês no salão, ao longo dos anos o restaurante recebeu diversas autoridades políticas, empresários, artistas e turistas vindos de todo o país.

A história 

Segundo Orides, o restaurante iniciou as atividades em 1962, fundado pelo avô Osvaldo Schumacher. “Ele começou muito pequeno, em um rancho de chão batido com areia, em uma cozinha muito simples. Começou a atender o pessoal de Brusque, com frangada, galeto, churrascada. Depois ovelha. E foi indo. Depois, minha avó começou a fazer marreco e macarrão. Aí o pessoal gostou e no fim o marreco com macarrão caseiro se tornou o carro chefe da casa. Mais adiante surgiu o eisbein e meu avô foi se aperfeiçoando. Emendou com o bar. Depois implementou um matadouro para abater os marrecos e patos e assim foi indo”, conta ele, que tinha 10 anos neste período. 

“Quando tinha 11 anos eu comecei a trabalhar com o meu avô. Primeiro para recolher e lavar copos e daqui a pouco já estava ajudando a servir. Depois, com 14 anos fui trabalhar em Brusque, mas todo final de semana eu ajudava no restaurante. Mais tarde, meu tio Alcilo herdou e eu fiquei até os 18 anos, quando fui trabalhar na Alemanha”, recorda. 

Orides conta que o tio teve alguns problemas e o avô colocou o restaurante à venda. “Foi quando meu pai comprou, em 1974. Meu avô cuidava das carnes e meu pai saiu da empresa e veio tocar o restaurante com a minha mãe. Desde então, o restaurante foi da família Kormann. Todos os meus quatro irmãos passaram aqui pelo restaurante. Hoje tem três falecidos e somos eu e o Valdir, que ficou mais tempo”, explica. 

Conforme Orides, quando o pai faleceu a família continuou com o estabelecimento. “Continuou o Valdir, a minha mãe e o mais novo Ademar. Eu estava fora. Em maio de 2021, faleceu o Ademar, que cuidava do bar. Minha mãe me chamou e vim novamente ajudar. Fiquei até dezembro. As ideias às vezes não batiam bem, principalmente sobre reforma e manutenção, e não era o que eu queria. Então, no ano passado, quem tocou o restaurante foi o Valdir e minha mãe. Só os dois”, relata.

Em maio de 2022, dona Renata teve uma queda e quebrou o fêmur. “Foi para o hospital e não andou mais. E quem tocava o restaurante era o Valdir. Estava indo, pois a clientela era muito boa. Chegou o final de ano o Valdir decidiu não voltar mais e eu também não vim. Os netos da minha mãe, os nossos sobrinhos também não querem, pois todos estão empregados. Então, todos falaram que não queriam tocar e decidimos manter fechado”, detalha. 

Desculpas

O ex-prefeito pede desculpa aos clientes. “Junto com cada um deles, nós também sentimos muito, pois conhecemos os nossos clientes de 20, 30, 40 anos. Me lembro de clientes da família vir e eu colocar as crianças na cadeirinha alta e hoje eles vinham com filhos e netos já. E todos os clientes muito fiéis. Só não cito nomes para não esquecer alguém”, afirma. 

“Fico triste de dizer que fechamos e digo aos clientes: muito obrigado por estes anos todos que conviveram com a gente. Muitos eram da família e se sentiam em casa. Iam na cozinha e no bar. Faziam seu próprio aperitivo”, revela. 

O município perde

Para Orides, a família e o município perdem com o fechamento. “Guabiruba começou a ser conhecida pelo Schuma em todo Brasil, inclusive no exterior. Tínhamos um cliente da Nova Zelândia, que manda cartão todos os anos na Páscoa e no Natal. Dos Estados Unidos, muita gente passou por aqui: pessoal da TV, o Ratinho, jogadores de futebol, entre muitos outros”, ressalta. 

De acordo com ele, até o momento o restaurante não foi vendido. “Não temos intenção de alugar e sim vender, pois são muitas fatias. Tudo que é muita gente envolvida fica mais difícil. Minha mãe enferma não está acompanhando bem a situação, mas ela vai entender e o Valdir não quer falar”, completa. 

Orides lembra da brincadeira que se fazia muito na região de que o melhor marreco de Brusque, se comia em Guabiruba. “Ainda se fala, pena que agora não será mais possível, mas esperamos que alguém faça este trabalho daqui para a frente. Existem receitas para fazer o macarrão e o marreco”, afirma. 

Grande tristeza e boas lembranças

“Para mim é uma grande tristeza fechar o restaurante, pelo fato de ter participado desde criança. Tenho só lembranças boas. Algumas até engraçadas, como a vez que derramei molho na roupa de festa de uma senhora. O marido ficou bravo e ela não. Ou quando eu era guri e o cara que fazia caipirinha não veio e eu fui fazer a pedido do meu avô. Como não sabia se estava boa e tinha que provar, eu já não conseguia mais fazer. Meu avô ficou muito bravo e me mandou para casa. Eu chapado, mas não sabia que pegava (risos). Limão, açúcar e um pouco de pinga.. São passagens boas, assim como as histórias que se escutava à noite no bar”, recorda.