Fotos: David T Silva

 

Há 60 anos, Guabiruba se dividia de Brusque, enquanto Érico Pontaldi (88) e Cecília Suem Pontaldi (84) somavam suas vidas por meio do matrimônio. O casamento foi realizado na Paróquia São Luiz Gonzaga.    

Criados no Lageado Alto, os dois se conheceram ainda crianças, mas começaram a namorar quando ele tinha 25 anos e ela 22. “A gente namorava janela com janela”, conta ela.  

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A união se multiplicou e tiveram seis filhos: Lúcia, Domingo, Zenilde, Maria, Antônio e Valmir, que morreu em um acidente de moto, aos 33 anos.  “Ganhei todos os filhos em cima da minha cama. Só a Maria nasceu em Azambuja, no hospital. Eu também tive outro filho, que sofri um aborto”, relata dona Cecília. 

Os dois comentam que o acesso do Lageado Alto para onde hoje é o centro da cidade era difícil e se fazia o trajeto a pé. “Na primeira eleição de prefeito da Guabiruba, eu fui até lá na entrada, na Olaria do Westarb para votar. Não tinha rua aberta como agora. Era um carreiro ruim. Fui descalço”, conta seu Érico, que ainda hoje não é fã de sapatos. “Para Brusque, nós também ia e voltava de pé. Tinha alguma carroça, mas era pouca”, completa. 

Dona Cecília diz que mais tarde, quando “arrancou” os dentes, o marido a levou de bicicleta até o bairro Aymoré. 

Ela sempre trabalhou com seu Érico na roça. “Eu vinha lá de cima perto das 11 horas para fazer o almoço. Andava grávida com um saco de aipim nas costas. Uma vez caí de barriga para baixo carregando trato. Antes não era como agora, a gente trabalhava até que nascia a criança”, explica. Segundo ela, uma vizinha ajudava nos partos. 

O trabalho com a terra, seu Érico diz que é de família. “Com 10, 12 anos eu trabalhava com meu vô na roça. Ele ia lá para dentro, levava um pouquinho de comida e trabalhava”, recorda ele, que é filho único. 

“Eu nunca fui empregado, sempre trabalhei na roça”, completa seu Érico, que diz que já plantou de tudo: milho, feijão, aipim, cana de açúcar, fumo, entre outros. “A gente plantava para o gasto”, explica.  

Ele lembra dos tempos em que se fazia fogo no chão na casa do avô para fazer polenta na panela de ferro . “Ficava uma casca que era boa para comer. A panela era pendurada com uma corrente”, descreve. “Força (energia elétrica) não tinha. Naquela época, os porcos eram mais magros do que eu”, diverte-se.  

O casal conta que há alguns anos o Lageado Alto era bastante povoado. “Moravam quase 160 famílias aqui. Nós estudamos só até o terceiro ano, que era o que tinha. Mas os filhos estudaram mais, pois chegaram a ter três escolas no bairro”, comenta dona Cecília. 

Enquanto muitas famílias se mudaram, eles permanecem no mesmo terreno de quando casaram. Construíram uma nova casa, ao lado da antiga, que segundo dona Cecília ainda não caiu, pois os cupins estão segurando. 

Bem-humorados, falam da rotina de casados. “A vida de casado até agora é boa (risos). A gente precisa brincar, né!?”, diverte-se dona Cecília, contando que pela manhã, sempre levanta da cama antes do marido.  

“Eu faço café primeiramente, depois ele come e eu fico fazendo o meu serviço. Eles, às vezes, dorme um pouquinho mais, pois fica vendo televisão. Eu levanto primeiro para acender o fogo. Até descasco o ovo pra ele, ele não pode reclamar. Eu sirvo o café também, mas se eu quero tomar café preciso me servir sozinha”, fala dando risada. 

Os dois também conversam sobre o futuro. “Até que a gente possa se virar ficamos aqui. Quando for só um, não sei. Se ele partir antes eu não fico sozinha aqui”, avisa dona Cecília. “Se ela vai primeiro, eu não saio daqui”, emenda seu Érico, que adora o lugar onde nasceu e não dispensa uma boa pescaria com cerca de 20 anzóis. Os peixes ele limpa no ribeirão e traz para a esposa fritar. 

É na simplicidade da vida no interior, que dona Cecília e seu Érico construíram sua história, que faz parte da história de Guabiruba, muito antes de se tornar uma cidade!   

 

 

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