No último domingo comemorou-se o dia dos pais; quem os têm, acredito eu, procuraram estar por perto. Para os pais já ausentes, como o meu, é momento de relembrá-los e agradecê-los. 

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Meu pai é o típico gaúcho da roça, filho primogênito de família grande que pouco brincou na vida, era preciso trabalhar desde muito cedo para ajudar os pais. Ao casar com minha mãe, mudaram-se para São José Cedro – SC, divisa com Argentina, onde nasceram os seis filhos (um falecido). São muitas histórias contadas dessa época que eu nem existia, era muito trabalho na roça, muitos terços rezados nas casas dos vizinhos; galinhadas após as missas e, para meu pai, a bocha nos domingos à tarde. O trabalho dignifica o homem e meu pai era exemplo disso, não existia dia ou trabalho ruim, o que precisava ele fazia. Seis meses após meu nascimento, meus pais decidiram tentar uma nova oportunidade na cidade. 

Contava meu pai que ao decidirem mudar-se pediu a Deus para que lhes ajudassem a vender o que tinha, dito e feito, em uma semana venderam tudo e só não vendeu a família porque não queria, risos. E assim, com as roupas e os cinco filhos viajaram 700 km de ônibus até chegarem em Brusque. 

Chegando compraram um terreno e construíram uma casa de madeira, mudaram-se para a casa antes mesmo das janelas colocadas; a única que dormia no colchão era eu com seis meses. Os pais são imagens de força e resiliência para os filhos, e se faz necessário conhecer suas histórias para que saibamos que assim como eles, também enfrentaremos dificuldades e conseguiremos superá-las. Na cidade, meu pai começou trabalhando com o que tinha: roçador, jardineiro, segurança até se tornar o porteiro do Colégio São Luiz. O Tio Danilo, era assim que os alunos o chamavam. Era a paixão do meu pai, amava os alunos como se fossem filhos, arrumava espaço para as crianças fazerem seus piqueniques, pegava a fuga daqueles que tentavam pular o muro para matar aula. 

Nos natais meu pai deixava de ser o porteiro para o ser o Papai Noel do colégio, era lindo de ver. Os presentes que recebia eram levados para casa em mais de uma viagem de carro. Já idoso, por inúmeras vezes encontrávamos ex-alunos médicos, dentistas e entre outras profissões que o reconheciam e queriam tirar foto com o Seu Danilo, e imagina, o orgulho do meu pai não cabia no peito.  Lembro-me do uniforme de veludo, cor vinho, camisa branca e gravata. 

Arquivo pessoal

Nunca chegou atrasado no trabalho, e nisso infelizmente não puxei a ele, ele cobrava-me “Filha, por quem você puxou se nem eu e nem sua mãe somos assim”, de fato, até agora não descobri. Em nosso lar não existia luxo, mas o essencial nunca faltou. Meus pais trabalhavam o ano inteiro, porque no final do ano ninguém ficava em casa, pregava as janelas (Sim! As janelas eram de madeira e o zelo pelas poucas coisas que haviam em casa o fazia pregar tudo), mas pelo menos aprendi a zelar pelas minhas também. 

Então íamos, carro cheio, café, chimarrão e sanduíches pelas estradas, músicas gaúchas e bandinhas até lá; a mãe cuidava das placas e reclamava com as ultrapassagens do pai. Minha irmã e eu, com dramin, dormíamos a estrada toda. Meu pai, pouco alfabetizado, nos levou em lugares que nem nós acreditávamos que chegaríamos, 15 dias de aventuras e voltávamos com o carro mais cheio que fomos, exaustos. 

Não tínhamos muito, mas tínhamos tudo. Nos preocupemos com a herança que precisamos deixar aos nossos filhos, sabendo que momentos e experiências serão as marcas registradas nos corações deles.  E neste ano fez três anos que meu pai partiu, contudo, suas lembranças, sua voz e seu jeito ainda estão vivos em minha memória. Quando acordo e digo “Benção, Pai” ainda posso ouvi-lo dizer “Deus te abençoe, minha filha”, porque para quem tem fé a vida não tem fim.   

 

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