Será possível enxergar a alma de uma pessoa? Nesta entrevista com Marcelo Carminati, 50 anos, você vai poder ver um pouco do que a alma do filho de Olíbio e Lydia Hassmann Carminati traz para Guabiruba.

Extremamente apaixonado por literatura e arte, Marcelo conta um pouco de sua história e como enxerga a cultura no município. O irmão, que nasceu à noite, de Rodrigo Carminati, é esposo de Aparecida Correa Carminati e pai de Arthur Felipe e Mariana.

GZ: Quem é Marcelo Carminati?

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Marcelo Carminati: Marcelo é uma pessoa grata por ter tido oportunidade da vida. Fui adotado logo ao nascer, mas agradeço à Deus e à mulher que me gerou por terem me dado a oportunidade de viver. Meus pais são muito mais pais do que se possa imaginar. O amor e o carinho que existem entre nós são imensuráveis.

Sou grato também por ter tido a oportunidade de desenvolver diversos talentos diferentes. Sou péssimo jogador de futebol, mas em épocas escolares era medalhista em corridas rápidas e em outra época de vida joguei vôlei, apesar da baixa estatura.

Aos nove anos iniciei o curso de pintura de óleo sobre tela com a professora Ivone Dietrich, ali aprendi as primeiras noções de desenho e do manuseio dos pincéis e tintas fato que me levou ao ápice pintando junto com amigos a Gruta da capela Sagrado Coração de Jesus, no bairro Guarani, em Brusque.

Aos 12 anos iniciei a participação no teatro e dos papéis secundários passei a função de diretor teatral e dramaturgo, onde me dedico intensamente desde 1986 à peça Paixão e Morte de um Homem Livre, uma das minhas maiores paixões. Mas no teatro eu já vivenciei diversos papéis em diversas peças e estilos diferentes, dentre elas a peça Porões da Liberdade (de Saulo Adami), na qual fui o sindicalista Guilherme Martins. A obra foi apresentada em 1994 em memória da revolução de 1964, e me oportunizou junto com a equipe participar do Festival Universitário de Teatro de Blumenau e na oportunidade três dos atores da nossa peça chegaram a fazer um teste para a TV Globo e isso também foi uma experiência incrível.

Tive ainda a oportunidade de aprender muito com Sonia Regina Boing, na época de teatro no SESC e lá trabalhamos o teatro de bonecos onde vivi oito personagens diferentes, dando vida e voz diferente a cada um deles. Aos 16 anos conheci a caligrafia e venho aprimorando este talento no dia a dia, escrevendo cartazes, painéis e convites de casamento. Também tive a oportunidade de viver momentos incríveis no Coral Cristo Rei de Guabiruba durante nove anos e no Grupo Vocal Esquina Brasilis, de Brusque durante três anos.

GZ: Os sonhos do Marcelo criança coincidem com os do Marcelo adulto?

MC: Quando criança tinha diversos sonhos. Meu pai queria que eu fosse engenheiro. Numa oportunidade eu quis ser policial. Noutra fase da vida quis ser padre e até me dediquei a isso. Mas o tempo passa e os sonhos mudam.

O gosto pela leitura nasceu muito antes de conhecer as letras e a junção das sílabas que formam as palavras. Sempre gostava de manusear livros, revistas, gibis e com isso veio também o gosto pelo desenho. Dali veio a paixão pela arte, pelo teatro, que já era uma brincadeira preferida e a vontade de comunicar por meio das diversas formas culturais.

Em casa meu pai ouvia muitas músicas em LP e eram muitas as vezes que ouvíamos os discos cantando junto. Essas memórias fazem a gente amadurecer as capacidades e talentos que temos.  Aos 16 anos tive que fazer um cartaz para pôr num evento na Capela São Pedro. Eu tinha que escrever: “Nunca o mundo precisou tanto de instrumentos de paz como agora”. Levei a tarde toda para fazer e gastei umas dez cartolinas para apresentar um cartaz decente. Neste dia descobri que era fácil para mim trabalhar com letras e ali nasceu minha habilidade com caligrafia. Inicialmente precisava fazer linhas com lápis para que tudo ficasse perfeito, hoje, a prática intensa deste trabalho me possibilita escrever direto em qualquer superfície.

GZ: Quais suas principais expectativas para 2020?

MC: Tenho como meta crescer, melhorar como pessoa e escrever um livro. Gostaria de iniciar um trabalho novo na área de teatro e fazer algo que nunca fiz: Uma comédia que seria de fácil entendimento e que pudesse levar a diversos lugares. Guabiruba tem uma gama enorme de pessoas com talento e com vontade de fazer teatro e que merecem lapidar esse talento e apresentar o que produziu.

GZ: Como você vê a questão da adoção?

MC: Aos cinco anos eu queria ir para a escola. Queria aprender a escrever e ler. Meu tio era Diretor da Escola Reunida Professor Carlos Maffezzolli e como não havia séries pré-escolares na época ele me levava junto e me deixava participar das aulas do primeiro ano, pois sabia da minha vontade de aprender. Eu fui e já me dei bem. No ano seguinte fui devidamente matriculado no primeiro ano e então iniciei meus estudos. Falei disso porque foi nessa época que meus pais me chamaram no quarto deles e me contaram sobre a adoção.

Lembro-me perfeitamente deste dia. Minha mãe sentada ao meu lado me abraçando e meu pai em pé em frente a mim. Estavam emocionados e não sabiam qual seria minha reação. Quando me contaram eu só queria saber de onde vim e por que me deram, mas eles tinham poucas informações e falaram só o que sabiam, não inventaram história alguma. Fiquei pensativo por alguns dias, mas depois deixei isso pra lá, bem pra lá, pois o amor que recebo ainda hoje é muito maior do que o fato de ter o mesmo sangue na veia. Eles são incríveis e nunca me discriminaram por isso.

Quatro anos e meio depois da minha adoção nasceu meu irmão, filho biológico deles, que recebeu o nome de Rodrigo (que todos conhecem por INO). Quando éramos crianças muitos curiosos perguntavam por que um é loiro e outro moreno, e a resposta do meu irmão era simples e direta: “Eu (Rodrigo) nasci de dia e ele (Marcelo) nasceu de noite!”. Não sei se a resposta contentava e preenchia a curiosidade, mas servia como uma piadinha e deixava todos satisfeitos.

A adoção sempre foi tratada como assunto comum e tranquilo na minha casa e na minha vida. Nunca foi tabu ou assunto proibido. É real, normal e sem sequelas. Acredito que a adoção só é possível por quem tem uma imensa capacidade de amar.

GZ: O que te motiva a realizar tantos trabalhos voluntários? Quais são eles?

MC: Desde novo sempre gostei de atuar a serviço da comunidade e isso é bom. O voluntariado faz você colocar suas habilidades a serviço de algo maior e isso faz bem ao coração e nos faz crescer como pessoa. É uma forma de colaborar. Gosto de fazer os trabalhos de desenho e montagem dos tapetes de Corpus Christi, de me envolver com projetos religiosos como a catequese ou preparação de eventos, de estar colaborando na Festa Italiana, da promoção, incentivo e preservação da cultura local, principalmente perante a Sociedade do Pelznickel e da dança folclórica. As atividades feitas com dedicação total fazem um diferencial no sucesso do evento, seja ele qual for.

GZ: Como você enxerga a Cultura em Guabiruba?

MC: A cultura é vivida e preservada de uma forma única. Apesar de ser um município pequeno e interiorano, está à frente de muitas grandes cidades que já perderam sua identidade cultural ou o amor pela realização de eventos culturais. O teatro, a dança típica, as festas, o Pelznickel, os Corais, são trabalhos que não deixam de acontecer porque tem vida, tem quem faça e leva isso como objetivo de vida. Paixão e Morte de um Homem Livre nasceu em 1981, foi apresentado até 1984 e retomado em 1986, permanecendo até hoje.

Isso é um trabalho que já foi apresentado de diversas formas, mas que é preparado com carinho por muitas pessoas durante muito tempo. A festa Italiana chegou na vida do Guabirubense e a cada ano supera a edição anterior com atividades culturais, decoração e animação.

A Pelznickelplatz é um evento que resgatou o que acontecia pelas ruas do município e trouxe para um local fazendo tudo acontecer de um modo mais mágico, inesquecível e especial. Corpus Christi a cada ano fica mais lindo na nossa cidade e as comunidades se preparam para fazer tapetes mais incríveis em homenagem a Jesus que visita fisicamente nossas ruas na hóstia consagrada. Os Corais e grupos vocais fazem ensaios semanais e levam para o Brasil afora e até para a Argentina e Alemanha a qualidade vocal dos trabalhos realizados aqui. Tudo isso em faz acreditar na cultura local. Me faz ver que aqui não só se faz cultura, mas se vive ela no seu dia a dia escrevendo uma história linda, ímpar e viva.

2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns Marcelo por sua incrível história!!! Seu talento sempre nos serve como inspiração…

  2. Parabéns Marcelo! Parabéns por todo o empenho, dedicação e por ser esta pessoa sempre alegre e divertida que nos contagia!!!

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