Crédito: Grazielle Guimarães / Guabiruba Zeitung

Orlanda Kohler, 50 anos, chega para a conversa rindo a toa, falando alegremente, vestida em uma blusa com estampa de onça e uma calça rosa claro. A guabirubense já inicia a conversa dizendo que está se sentindo bem, pois tomou sua pílula da felicidade, o remédio que ajuda a controlar os sintomas da depressão.

Após explicar a ela sobre a série de reportagens do Guabiruba Zeitung, Orlanda começa a contar que seus problemas com a doença vem desde recém nascida, quando sua mãe enfrentou dificuldades na hora do parto. Mas antes, ela faz um desabafo, “A coisa que me deixa mais triste é quando alguém me diz que é falta de Deus. Não é. Por mais que eu reze não adianta. São sintomas muito fortes”, explica.

A mãe de Orlanda ficou três dias em trabalho de parto. “Eu sou gêmea e minha irmã nasceu antes de mim, só que minha mãe não sabia que estava grávida de duas crianças, então ela passou três dias em trabalho de parto. Quando enfim meu pai a levou para o hospital os médicos não a atenderam pois achava que eu estava morta, mas minha mãe sentia eu me mexendo na barriga dela. Até que uma parteira me tirou de dentro da minha mãe e o médico veio nos atender”, conta.

- Publicidade i -

Assim como o parto, a infância de Orlanda também não foi fácil. “Minha mãe me batia muito, muito. Dizia que eu não tinha jeito. Eu chorava tanto! Muitas vezes não fugia das surras e isso me fazia apanhar mais e mais. Meu pai também era agressivo, bebia muito e fomos criados de maneira negligente”, relata.
Aos 19 anos, Orlanda se casou e foi morar na casa dos sogros, à partir daí a guabirubense começa a contar sua história dividida em três fases a partir dos nascimentos de suas três meninas.

A primogênita, Daiana
“Logo quando me casei, engravidei da minha primeira filha, a Daiana. Minha sogra não acreditava e dizia que eu estava mentindo. Eu passava muito mal, vomitava e chorava muito. Ela berrava ‘é tudo frescura tua’. Emagreci muito, tanto que minha barriga mal aparecia. Até que minha bolsa estourou e fui pro médico”, relata.

“Quando cheguei lá, passei por muitas violências. Eu não conseguia dar a luz, naquela época a assistência era nenhuma, praticamente. Sem anestesia o médico me cortou três vezes na vagina, para que Daiana passasse. Fiquei meses sem conseguir sentar e ainda assim voltei para casa”.

Orlanda completa contando sobre como a depressão e seu sofrimento afetava sua primeira filha. “A Daiana chorava, chorava dia e noite. Eu mais ainda. A gente não sabia o que fazer. Todos da casa sofriam. Até que minha sogra falou ‘vamos para Blumenau tentar descobrir porque essa coisa não para de chorar’. Chegando o médico foi me examinar e eu tremia de pavor. Ele se assustou ao ver meu quadro. Os cortes eram tão fundos que meu útero estava saindo. Passei por cirurgia. Foi horrível”.

À partir daí, Orlanda começou a tomar antidepressivos e teve que parar de amamentar sua filha. Ela foi avisada que não deveria engravidar até que o quadro normalizasse. Mas mesmo tomando anticoncepcional concebeu sua segunda menina.

Tainara, a preta
“Comecei a passar muito mal e suspeitei que estava grávida. Quando contei aos meus sogros, eles me acusaram de traição, dizendo que eu havia traído meu marido com meu cunhado. Por mais que eu saísse de casa apenas para a missa e para ver minha mãe. Contei o que estava havendo para meu esposo e, durante uma conversa com todo mundo da família, eu desmaiei e fui parar no hospital”.

No Hospital, Orlanda conta que o médico exigiu repouso absoluto. Sua cunhada sugeriu então que as duas trocassem de casa, com Orlanda podendo morar sozinha com seu esposo. A partir daí as coisas melhoraram. “O meu médico foi um anjo em minha vida, me tratava super bem. Assim que disse que eu estava grávida de uma menina, ele falava ‘é a preta! Não chora Orlanda, você vai ver, depois dessa menina nascer as coisas vão melhorar. Você vai ser mais feliz”. Apesar do medo de enfrentar outras violências durante o parto, o nascimento de Tainara foi tranquilo.

A caçula, Mariana
Quando soube que estava grávida de seu terceiro bebê, mesmo com DIU (Dispositivo Intrauterino) Orlanda ficou desesperada mais uma vez, com medo que enfrentasse as angústias e sofrimentos das gestações passadas. O médico, não revelou a ela o sexo do bebê para que a ansiedade não aumentasse.

Após o nascimento de Mariana, Orlanda continuou passando por problemas graves de depressão, tentando tirar sua vida por diversas vezes. Até que ela foi em um psiquiatra que lhe indicaram, segundo ela o médico lhe aconselhou; “Eu preciso te internar se não você vai acabar se matando. A sua fé e o amor às suas filhas é o que te mantém viva, mas precisas de tratamento”, relata.

Em 2003 Orlanda foi internada na ala psiquiátrica do Hospital Azambuja, diagnosticada com Síndrome Suicida, Depressão Bipolar F 31.4, que indica o grau de gravidade da depressão, que chega a no máximo F 32. São inúmeros os medicamentos que Orlanda toma para controlar a depressão. “Sou muito religiosa, minha filha Mariana foi curada de uma dor de cabeça terrível que ela sentia, cinco médicos não conseguiram ajudar ela. Hoje eu benzo crianças, rezo. Por isso que digo, depressão não é falta de Deus. É uma doença terrível que afeta não só quem sofre dela mas quem está a sua volta”, pontua.

Apesar das suas lutas, ela afirma o quanto foi importante o médico em sua vida e que as pessoas que estão nessa situação devem procurar um médico, pois depressão não é frescura, é doença.

Por: Grazielle Guimarães / jornalismo@guabirubazeitung.com.br

Deixe uma resposta

- Publicidade -
banner2
WhatsAppImage2021-08-16at104018-2
previous arrow
next arrow