Carmen Regina Ebele é casada com Márcio, com quem tem três filhos: Thiago, Carla e Elisa, que com o Harri tem os filhos Francisco e Bia (Créd. da Foto: Arquivo Pessoal)

Esta entrevista integra a série Vidas e Vozes de Mulheres na Pandemia.

Quem é você? Qual o seu nome, idade, estado civil? Tem filhos? Onde mora? Qual sua profissão? Há alguma outra informação que descreva você?

Meu nome é Carmen, moro em Guabiruba, tenho 56 anos e sou casada com o Márcio, com quem tenho três filhos: Thiago, de 26 anos, Carla, de 30 anos, e Elisa, de 33 anos, que com o Harri nos deu os netos Francisco e Bia! O Francisco tem renovado nossos dias com sua energia e afeto! É bom demais ser mãe e ser avó! Sou Orientadora Pedagógica na Escola Professor Carlos Maffezzolli, provenho de uma família de professores. Tanto meus avós paternos, como meus pais e irmãos abraçaram esta profissão. Missão que não parou por aí, mas vem se estendendo com cunhados e sobrinhos! Fui professora por muitos anos, e sempre gostei de trabalhar com projetos, atuar em causas sociais, mesmo dentro da escola. Foi aí que decidi ser Orientadora Pedagógica, profissão desafiadora, que me realiza profissionalmente e também como pessoa. Acolher, visitar, ouvir, conversar com pessoas, me fortalece, frente aos meus desafios, à minha lida diária. É como se fosse uma troca: eu ajudo e sou ajudada!

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Conte sobre sua rotina diária.

Minha rotina diária envolve o trabalho home office, tarefas da casa e atividades com minha filha Carla, que tem deficiência e está em período integral comigo, pois a Escola Charlotte e APAE, escolas que frequenta, estão com as atividades suspensas. Carla é uma jovem muito saudável, alegre, se adapta com facilidade em diferentes ambientes, mas é totalmente dependente, por isso demanda de uma rotina de cuidados que é seguida a rigor, levando em conta seu conforto e bem-estar. Ela é muito especial, merece o melhor, por isso, na minha rotina, ela é prioridade.

Qual a sensação ou o sentimento de trabalhar com o ensino remoto, da ausência do contato presencial e a interação pessoal com os colegas professores e alunos?

Como já mencionei, por conta da pandemia do coronavírus, estou desempenhando minhas funções home office, experiência que será inesquecível na minha vida. Inicialmente, trabalhar em casa foi muito difícil, me fez perder o sono, desorientou meus dias, eu chorava bastante. Sentia falta das interações com os alunos e com os professores.  Não me fazia ser entendida. Mas, como sabemos, para tudo na vida há um tempo e um propósito. Assim, aos poucos, fui acalmando meu coração, e comecei a olhar com mais sensibilidade para mim mesma, para meu entorno e essa atitude me fez colher e juntar vivências maravilhosas que o trabalho vinha me oferecendo e oportunizando, e que eu não estava me permitindo ouvir e ver. E esse olhar gerou um sentido de muita gratidão e de harmonia dentro de mim!

Como é realizar as atividades escolares em casa com sua filha e agregar a educação escolar às outras atividades que você já tinha ou que tem diariamente? Qual a sensação de se dedicar a tantas atividades? Você acha que está trabalhando mais na quarentena?

Sou muito grata por trabalhar em casa e ter ao meu lado, aos meus olhos, com segurança, minha filha Carla, que tem limitações físicas e intelectuais. Ela me acompanha em todas as atividades do trabalho e tarefas da casa, e é o principal motivo de eu não ir trabalhar na escola. Estou trabalhando mais por conta dessa nova realidade. Realizar em casa minhas funções de Orientadora, cuidar das tarefas da casa e manter a Carla animada nem sempre é simples, mas é o que esse tempo exige, não tem como ser diferente. Vejo que o importante é saber até onde podemos ir, quando é hora de mudar o foco, enfim, manter o equilíbrio.

E sua filha tem participado das atividades da escola? E como você a vê neste período de quarentena? Ela está motivada, aborrecida, cansada, feliz? Qual a reação dela no momento das atividades? E seu marido, como tem reagido a essa nova rotina?

Carla tem sido minha companheira de todos os dias, minha ouvinte, confidente, que mesmo sem se expressar oralmente, com a sabedoria que vem do seu olhar, do seu sorriso, diariamente me inspira e me faz refletir sobre o sentido das experiências compartilhadas no meu trabalho home office. Mantê-la animada nem sempre é fácil! Ela é muito sociável, gosta de aglomero, de agitação, e antes da pandemia tinha o dia cheio de atividades. Claro que está sentindo na sua rotina a repercussão do isolamento social. O que no início era novidade e alegria: ficar o dia inteiro ao lado da mãe, hoje não a alegra tanto. Essa rotina está um pouco sem graça para ela, é visível que está sentindo falta das escolas, dos amigos, das atividades. Mas, devido ao atual cenário, não tem como ser diferente. Meu filho Thiago é parceiro, me socorre quando tenho dúvidas frente aos desafios do trabalho virtual, e meu marido Marcio, que me conhece muito bem e sabe o quanto me envolvo com minha função de orientadora e com tudo que assumo, é muito paciente comigo. Me ajuda com as tarefas da casa e não cobra serviços que ficam para trás. Sempre tive muita colaboração dele e toda minha família para conciliar a rotina do trabalho com a rotina da casa e com a vida pessoal, e, agora, frente a essa nova realidade por conta da pandemia, mais do que nunca é preciso juntar forças, compreensão e muita paciência na convivência e nas relações pessoais.

Cite medos e alegrias vivenciados na quarentena. Do que sente falta? Qual o sentimento que você tem frente à pandemia?

Sobre os meus medos, posso dizer, tive e ainda tenho receio do contágio do coronavírus, especialmente por conta da minha filha Carla, que tem deficiência, e por conta do meu marido e meu filho que retornaram a sua rotina normal de trabalho e têm contato diário com muitas pessoas. Sinto muita falta das conversas e cafés na casa dos meus pais, da minha sogra e do meu sogro, que eram frequentes na família, também dos encontros com os amigos, de receber pessoas na área de encontro da nossa casa, que eu adoro… enfim, a gente está sentindo falta de gente! E como alegrias, quero ressaltar que esse tempo atípico me aproximou de experiências muito profundas no meu trabalho, que o trabalho presencial não oportunizava. Nas minhas conversas e mediações como Orientadora, tenho escutado, quase em segredo, desabafos de mulheres que estão com medo por conta da falta de  trabalho, por conta de seus filhos que estão em casa aos cuidados de outros,  mulheres que estão cansadas de realizar com as crianças as atividades virtuais porque não sabem ensinar… enfim, escutar  essas vozes gerou dentro de mim o desejo de criar algo para  ajudar essas e outras mulheres a se sentirem acolhidas, e assim nasceu o Projeto Vidas e Vozes de Mulheres na Pandemia, que pra mim, é motivo de muita alegria, pois é fruto de uma realidade que de alguma forma deixará marca na vida das pessoas. O sentimento que expressa o que sinto nesse tempo é gratidão. Gratidão pelas pessoas que estão passando por mim, e que já não vão tão sós, porque deixaram um pouco de si, e estão levando um pouco de mim.

O que você descobriu sobre você nessa pandemia?

Com a pandemia, em casa, descobri o quanto gosto do silêncio. Antes, passava a maior parte dos meus dias no meio da aglomeração e barulho da escola, e a gente acaba se acostumando a esse modo de vida.  Mas, em casa, descobri o quanto o silêncio me faz bem, o quanto ele me restaura e, posso dizer, me anima! Encontrei força, fé e alegria para prosseguir na caminhada nos momentos de profundo silêncio!

Em meio a tantas incertezas, mudanças, desafios que a pandemia nos impõe, você tem dicas, sugestões ou alternativas para as mulheres se manterem bem nesse novo estilo de vida?

Como sugestões e dicas para as mulheres, digo que devemos valorizar o tempo que temos e priorizar momentos para escutar a voz que ecoa dentro de nós, para descobrir e decidir sobre o que precisamos adotar e o que devemos descartar para o nosso bem-estar. Quando conseguimos identificar em nós emoções, fragilidades e potencialidades, desenvolvemos a capacidade de lidar com situações inesperadas, como a situação que a pandemia nos impõe, superar obstáculos e problemas do dia a dia, além de reagir positivamente frente a eles sem entrar em conflito psicológico ou emocional, o que hoje tanto nos ameaça.

Como você acha que será a vida da humanidade após a pandemia?

Creio que, após a pandemia, os afetos e vínculos serão mais valorizados, porque o momento exige que as pessoas se cuidem pensando também no outro. Penso que a utilização dos recursos digitais também prevalecerá, por sua praticidade e economia, de tempo e financeiramente. Claro que nem tudo se resolve digitalmente, voltarão os tão esperados eventos presenciais, mas vejo que é real também, que muitas atitudes práticas utilizadas serão deixadas de lado depois da pandemia.

O que a pandemia vai deixar nas nossas memórias?

Acredito que as vivências neste tempo de pandemia ficarão nas nossas memórias como histórias de vida! Esse período certamente fará parte da memória pessoal e coletiva da humanidade pelos impactos e consequências que vem causando na vida das pessoas, negativamente, como a falta dos abraços, a falta dos encontros, a depressão, a repercussão econômica, mas também positivamente, como redescobrir potencialidades, saber viver com mais simplicidade, passar mais tempo com a família,  utilizar novos  recursos digitais, e, principalmente, aprender que em todas as  situações podemos tirar algo de bom para nosso crescimento pessoal.

Quando esse tempo difícil passar, quais são as coisas que você mais quer fazer?

Quando esse tempo desafiador passar, uma das primeiras coisas que quero fazer, e que adoro, é reunir toda a minha família aqui em casa para um brunch, rir bastante, conversar, brincar, matar a saudade dos encontros sem preocupações e sem máscara! Também quero ir para a praia e pegar sol, atividade que sempre gostei de fazer e que na próxima temporada penso que não vai acontecer, e também pretendo viajar com minha família.

Tem algo que ainda gostaria de contar?

Ainda gostaria de contar que este tempo de escuta de mim mesma e do outro me proporcionou um aprofundamento muito grande da minha espiritualidade, mais autoconhecimento, gratidão, empatia, discernimento nas escolhas e sabedoria para agir com mais equilíbrio frente às emoções, escolhas e decisões.  Claro que cada dia tem suas preocupações, mas, quando estamos de bem conosco mesmo, conseguimos viver os dias com mais leveza, e isso faz muita diferença no nosso dia a dia.

13 – Compartilhe uma frase ou pensamento ou um verso de poema que tem significado especial para você.

Quero compartilhar um pensamento da poetisa Cora Coralina, que marca muita minha trajetória nesta pandemia: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada, caminhando e semeando, no fim terás o que colher”. No contexto desse pensamento, como esposa, mãe e educadora, me esforço para ser melhor a cada dia, e semear sementes de amor na minha caminhada e no caminho das pessoas que passam por mim. Seja por uma palavra, um elogio, um carinho, uma escuta. Disso me sirvo, para ser feliz, e fazer os outros felizes, também!

1 COMENTÁRIO

  1. Mulher exemplar…sou feliz em compartilhar com você muitas experiências e construir novas oportunidades para a educação guabirubense.

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