Caros leitores, deem-me créditos para esta entrevista, pois não foi fácil. Uma, porque quando disse que gostaria de entrevistá-lo, começou a fugir de mim como diabo foge da cruz (risos), e outra que é difícil falar sério com essa pessoa. 

Seu nome é Mario Schlindwein, mas todos o conhecem como Chita! Ele é o entregador de jornais, o porteiro da cidade, o guia turístico do Município, o zelador dos canteiros e, como alguns afirmam, a figura folclórica daqui. Nasceu em 1958 e nesses próximos dias estará de aniversário. Imaginem que, de 10 frases que fala, oito serão piadinhas e duas serão “suponhamos que” – a forma como ele inicia suas falas. Não tem papas na língua e pelo jeito, nem tristeza na vida, tudo é motivo para um sorriso aberto. Em relação a sua vida política, afirma que jamais poderá se candidatar, pois só em cima tem duas chapas (risos), resultado de um acidente de moto. Ainda fez-me prometer que pelo menos essa piada eu colocaria na coluna. Bem audacioso ele.  

- Publicidade i -

Seu Chita é um manezinho de Guabiruba, manezinho pois adora uma praia. Conta que no verão seu lugar favorito é Balneário Camboriú, que para ele é uma Ipanema da vida.  E fala com propriedade, pois já residiu no Rio de Janeiro e conhece Ipanema e Copacabana como a palma da mão. Quando tinha 18 anos conseguiu uma bolsa de estudo para o curso técnico de Fiação e Tecelagem no Rio de Janeiro. Ficou lá até 1980. 

Ao terminar a bolsa, tentou outra em São Paulo mas não conseguiu, retornando assim para Guabiruba. Trabalhou na Buettner até 1986, quando decidiu que não aceitaria mais trabalhar numa jaula, era como se sentia, e pediu demissão. Assim, em junho iniciou uma nova profissão: entregador de jornais. Começou entregando pelo Jornal Santa Catarina, logo faria o trabalho de circulador, ou seja, era responsável pela distribuição dos jornais aos jornaleiros dos municípios vizinhos. Além de entregar, vendia anúncios e fazia renovações. “Ganhava dinheiro como água”, recorda.  

Naquela época as impressoras de jornais eram muito manuais. Chita lembra do operador puxando o papel, passando a tinta e esperando secar. E se dava um problema, atrasava por horas as entregas. Os jornais chegavam nas rádios e as notícias eram recortadas para que os radialistas lessem ao vivo. Os jornaleiros começavam suas entregas às 3h da matina e precisavam ter uma boa pontaria, pois não tinham saquinhos para colocar os jornais em dias de chuva. Tinham de acertar a varanda, a garagem ou colocar na caixa de correios. Conta que a “praga” dos jornaleiros é o cachorro de rua, ou pegava o jornal ou pegava o jornaleiro. Era sempre um pega-pega. Escapou de algumas quedas. Relembra que em 1990 pegou três meses de chuva e frio, não foi fácil, mas para se proteger do frio sempre usava um jornal no peito por dentro da jaqueta. No entanto, prefere geada à chuva, é melhor frio do que perigo.

Chita é dedicado e zeloso pelo seu trabalho.  Prestou concurso para o Município de Guabiruba e atua até hoje como servidor.  Mesmo nos finais de semana continua limpando os canteiros e o portal, pois “o que os turistas falarão se chegarem na cidade e verem lixo nos canteiros?”. E acreditem, isso acontece muito. 

Cheguei para entrevistá-lo com meu caderno, uma caneta e meu celular e saí com cúrcuma, espinafre, cebolinha, limão e ovos, ou seja, ganhei uma feira inteira. Além de um café com docinhos que a esposa do Chita nos serviu, ela é um amor também.

Chita fala de suas histórias, ri das aventuras que viveu, mostra com orgulho as fotos dos filhos, as flores, o jardim, a horta e as galinhas. Segundo ele, a vida é um jogo e estamos aqui para jogar. “Precisamos ser humildes, pois o orgulho somente afasta as pessoas. Todos gostam de mim e quando falto em algum lugar, perguntam o porquê da minha ausência, isso é o que vale a pena. Não se leva nada dessa vida, levarei tristeza para quê? Ninguém sabe o dia de amanhã”, destaca. 

E percebo que é melhor ter paz do que razão, que ter amigos é uma dádiva e o orgulho é uma desgraça. Que possamos dançar no embalo da vida e se for para jogar, que seja um jogo sem faltas, seja ele com ou sem gols.



Deixe uma resposta

- Publicidade -
banner2
WhatsAppImage2021-08-16at104018-2
previous arrow
next arrow