Baasner ainda informa que, se eventualmente a Christkind não estivesse acompanhada do servo Ruprecht, ela apareceria acompanhada de um ou mais anjinhos, mas nunca sozinha. Neste caso, ao invés dos presentes saírem do saco que o servo Ruprecht carregava, eles sairiam de uma cornucópia (uma espécie de vaso em forma de chifre, um símbolo representativo de riqueza e abundância), ou então os presentes cairiam do céu. E, desta forma se apresenta metaforicamente que ser generoso e presentear é algo leve, num contraponto à imagem do servo Ruprecht que tem o andar denso em função dos pesos que carrega. Para receber os presentes da Christkind havia uma condição: que durante o ano a criança tivesse sido obediente. Porém, se não tivesse sido assim, também não se espalharia nenhum medo ou susto entre os desobedientes e o castigo seria eles não receberem presentes.
No século XX, a figura da Christkind vai se transformando mais uma vez e, em alguns lugares, passou a lembrar mais a figura de uma jovem mulher com traços humanos e com idade entre 15 e 20 anos, numa representação estética de uma figura alta, magra, com feições neutras e contemplativa. E, cada vez mais, a figura da Christkind com feições humanas vai se aproximando das feições do anjo que a acompanha, anunciando a “festa do Natal”, de modo que, em algumas representações, não se consegue distinguir se a imagem é do “Anjo do Natal” ou da Christkind. E, vocês sabem, o Anjo de Natal não é, senão, a própria Christkind (BAASNER, 1992).
Voltando a abordar o tema aqui na nossa região, Piazza (1960) escreveu que, em dias passados em Brusque e Guabiruba, o “Papai Noel” era comumente acompanhado pela Christkind -, uma criança vestida com ampla camisola branca, representando o Cristo Criança, com um véu no rosto para evitar a identificação e uma sinetinha na mão, para anunciar sua aproximação. A família, ouvindo a sinetinha tocar, acendia as velas da árvore de Natal – o pinheirinho – e apagava as demais luzes da casa e cantava “Stille Nacht” (canção “Noite Feliz’). Em seguida, a família recebia a dupla: Papai Noel e Christkind, contando-lhes as virtudes e diabruras de cada um dos petizes da casa e discutindo se mereciam ou não os presentes desejados. Quando o ‘suspense’ estava no auge, havia o gesto de magnanimidade da Christkind, mandando o Papai Noel distribuir os brinquedos e guloseimas. A abertura do saco de presentes era um estouro de alegria. Feita a distribuição, a família homenageava a dupla benfazeja, dando-lhes doces e bebidas” (PIAZZA, 1960). Se compararmos a descrição apresentada por Piazza com a narrada por Baasner (1992), veremos que os personagens se assemelham, mas o que Piazza nomina de Papai Noel, Baasner descreve como o servo Ruprecht ou como Weihnachtsmann.
De igual modo, encontramos semelhança entre o que Baasner escreveu com o depoimento de Riffel (2018), que conta que no Natal da região de Baden, Alemanha, a personagem Christkindl era representada por moças jovens da vizinhança que, acompanhadas do servo Ruprecht, entregavam os presentes no Natal. As moças deveriam ser jovens solteiras, e se apresentavam trajando vestidos brancos com um véu no rosto (para que não fossem facilmente identificadas). Em eventos natalinos da Alemanha, ainda em 2018 encontramos o servo Ruprecht, o São Nicolau, e a Christkindl abrindo o Mercado de Natal. Em Nuremberg, inclusive, vamos encontrar um evento chamado Christkindlesmarkt.