Pelznickel Parte VII – Christkind ou Christkindl

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Outro personagem mencionado por Piazza (1960) e que vamos encontrar ainda na atualidade no Natal de Guabiruba, é a Christkind (ou Christkindl, no dialeto alemão Badenser) que, na tradução literal, significa Cristo em forma de criança.

Segundo Baasner (1992), a figura da Christkind começa a parecer na Alemanha no século XVI, após a Reforma Protestante, e libera o São Nicolau de dar presentes. Para o autor, um dos principais motivos do surgimento da personagem Christkind foram as questões religiosas, pois a igreja não queria mais que o culto a São Nicolau fosse superior ao culto ao nascimento do Menino Jesus, e isso precisava ser incutido nas crianças. No princípio, a figura da Christkind normalmente era apresentada por um menino com idade entre 4 e 8 anos de idade, representando o “Senhor do Mundo” e, até o século XIX, no Sul da Alemanha católica, a Christkind era representada por bonecos ricamente ornamentados e segurando na mão o globo. Essas representações entraram no culto natalino, contudo, nas regiões de culto luterano, essas figuras ficaram em segundo plano. A Igreja Luterana deixou São Nicolau de lado, e promoveu o Cristo como o presenteador das crianças. A data de entrega dos presentes também mudou, passando do dia 6 de dezembro para a véspera de Natal.

Segundo Baasner, aos poucos e com o passar dos tempos, a figura da personagem Christkind vai sendo alterada. Com finalidades pedagógicas, a imagem de um jovem rei que comanda é suavizada, e com isso a imagem da Christkind se torna mais infantil. Nas áreas católicas da Alemanha, a Christkind continua a ser o principal portador de presentes, numa referência à encarnação de Jesus como uma criança, e as figuras de pequenos anjos como mensageiros da boa nova popularizam a imagem no século XIX. Mais tarde se observa uma nova transformação, e a Christkind começa a ser retratada de forma mais humilde, sentada no lombo de um burrinho, vestindo roupas simples, numa figura mais popular que já não contempla as pessoas “de cima para baixo”, e se mostrando em nível de igualdade para receber o amor e a contemplação do povo (BAASNER, 1992). A figura 1, datada de 1847, representa a Christkind e o servo Ruprecht. A Christkind, personagem etérea e iluminada, nunca sente frio, enquanto o servo Ruprecht é apresentado vestindo um grosso manto de peles, o gorro e botas, num contraponto entre o leve e o pesado, o etéreo e o terreno.

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No entanto, a transformação mais considerável da Christkind foi quando, por volta de 1900, em muitos lugares a figura deixou de ser representada como um menino e passou a ser apresentada como uma menina, com idade entre 4 e 8 anos, trajando uma espécie de vestido branco, de tecido leve e fluído, caminhando pela floresta à luz de Natal (Weihnachtslicht). E, nesta nova forma, torna-se indispensável que a Christkind passe a andar sempre acompanhada do servo Ruprecht, que tem como função indicar a ela o caminho e carregar os pesos (sacos). Elucidar a mudança do sexo da Christkind não é tarefa fácil. Uma possível explicação é que a questão religiosa vai sendo minimizada, perdendo força, vão se acentuando as virtudes mundanas e, entre estas virtudes, estão a afabilidade, o perdão e a generosidade.

Sob o ponto de vista pedagógico, no final do século XIX e início do século XX essas virtudes não poderiam ser representadas na figura de um menino, pois naquele tempo o masculino estava muito associado à figura representativa da guerra, sendo impensável imaginar estas virtudes num menino alemão e, por isso, a Christkind ganha a representação de uma menina afável, amigável, que incorpora a paz universal do “tempo de Natal”. Em toda essa história, o servo Ruprecht assume o lado mais pragmático, ou seja, cabe a ele o trabalho, o esforço, enquanto que a Christkind incorpora o estado das virtudes idealizadas. A relação entre as figuras do servo Ruprecht e a Christkind fascinava tanto os poetas quanto o público, não se consegue separar o mito da Christkind e do Ruprecht, e, ao longo do tempo, o elo existente entre os dois vai sendo fortalecido através de poesias, músicas, contos, peças teatrais e tradição oral.

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