Fotos: Arquivo pessoal

 

Na quinta-feira (2) o guabirubense Ailton Ebele participa da sua Primeira Profissão Religiosa dos Votos de Pobreza, Obediência e Castidade, pela Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. A celebração será realizada na Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Jaraguá do Sul (SC), às 10h. Quem não puder participar pessoalmente pode acompanhar pelas a transmissão online pelo Facebook e YouTube (noviciadofatima). Confira a entrevista a seguir.

Cidade onde reside atualmente e há quanto tempo saiu de Guabiruba? 

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Atualmente eu resido em Jaraguá do sul, no noviciado Nossa Senhora de Fátima. Cheguei aqui no dia 25 de janeiro de 2022 e permaneço até o dia 02 de fevereiro de 2023, dia em que professo os primeiros votos. Depois disso faço uns breves dias de férias e sigo para a minha próxima etapa. Eu saí de Guabiruba há 6 anos atrás, no dia 12 de fevereiro de 2017, um domingo, logo após o almoço. Meu primeiro destino foi o seminário São José que fica localizado em Rio Negrinho. Após aquele ano eu me mudei para Brusque, permanecendo lá por 3 anos para cursar filosofia. Após aquele período me mudei para Barretos – SP para outra etapa, e logo depois daquela cheguei em Jaraguá para o noviciado. 

Conte sobre sua relação com Guabiruba atualmente – família, amigos.

Eu amo Guabiruba. Carrego comigo um forte amor pela minha cidade natal, e digo que durante estes anos de formação, por todos os lugares que já passei, escutei muitos padres, religiosos, leigos e demais pessoas falando muito bem de nossa terra. Minha família é praticamente toda de guabiruba. Com a tecnologia atual eles me acompanham por onde vou e estão sempre comigo. Costumeiramente a cada 2 ou 3 meses eles me fazem uma visita. Já em relação aos amigos, é normal que a cada passo que nós damos pode haver uma nova configuração das nossas amizades. Isso aconteceu comigo, pois como não há aquele contato físico sempre, muitas amizades acabam ficando para trás. Mas, com toda certeza muitas amizades continuam sendo cultivadas, e muitos novos amigos também surgem. Minha facilidade sempre foi em ter amizade com pessoas mais velhas, e quando surge alguns dias de férias é sempre oportuno para tomar um cafezinho e reencontrar os bons amigos, porém é um pouco complicado conseguir visitar todos.

Fale sobre sua infância na cidade, bairro que cresceu.

Eu sempre gosto de evidenciar o bairro de onde saí, Lageado Baixo, pois durante a minha infância/juventude eu escutava muito dizer que era um bairro perigoso. Graças a Deus eu sempre vivi bem naquele lugar e vivi toda a minha infância e juventude por lá. Sempre estudei nas escolas públicas e usufrui do sistema público. Atualmente, por vezes quando me é pedido para falar sobre vocação, infância ou juventude, acabo me emocionando. Recentemente quando questionado pelo meu mestre de noviços sobre a minha vida e história, é fácil perceber que algumas lágrimas escorrem quando evidencio o caminho feito por mim, o caminho do “de onde eu saí, até onde eu cheguei”. Digo isso pois sei que durante um tempo encontrei em alguns comentários maldosos uma certa resistência do tipo: o quê? Do lageado? Felizmente tudo isso me tornou cada vez mais grato e apaixonado pelo meu bairro, minha cidade, minha história.

Como surgiu a vocação para a vida religiosa?

Desde criança eu sempre gostei de estar “no meio das coisas”, nunca fui de ficar acomodado e parado. Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de uma vida em movimento. Sendo assim, acabei me envolvendo com a Igreja, na minha comunidade por primeiro, com o grupo de jovens. Logo com 15 anos já estava fazendo minha primeira experiência de missão, em Rancho Queimado. Comecei a me envolver cada vez mais nas pastorais de liturgia e catequese. Aos 18 anos fiz o acampamento Fac (Formação de adolescentes cristãos), minha experiência foi incrível, e me sentia cada vez mais nesse “mundo” religioso. No mesmo ano, em 2013, aconteceu a festa das vocações do convento de Brusque em minha comunidade de origem, na São Vendelino. Lá aconteceu o ponto ápice do meu chamado. Após terminar os festejos os frateres estavam carregando o caminhãozinho com as coisas que sobraram. Eu estava tão envolvido que quando vi eles se despedindo comecei a chorar, sai para não verem, mas o padre viu e foi até mim, e com uma única fala ele me disse: eu sei o que tu queres, queres ir junto conosco né? Ali eu me dei conta do presente que Deus estava me dando. Foi então que comecei a procurar um acompanhamento vocacional, porém, o pároco da época não me auxiliou muito e acabei me frustrando, decidi deixar isso de lado. Segui com minha vida, trabalho, faculdade, retiros. Um ano depois fiz o curso de Emaús, e dali em diante comecei a estar mais consciente do chamado que Deus já havia me feito lá trás. Desta vez procurei o acompanhamento vocacional diretamente com o padre que me interpelou naquele dia, e assim comecei a trilhar esse caminho. Hoje, o mesmo padre é nosso pároco e sou muito grato pelo ministério sacerdotal dele.

Sua criação e a religiosidade da cidade influenciaram na decisão pela vocação religiosa?

De princípio eu não compreendia muito bem isso. Meus pais levavam a gente na missa, e não podíamos faltar na catequese, mas nunca houve uma cobrança por uma vida mais religiosa. Os passos que dei durante a juventude com os retiros, acampamentos e pastorais foram por decisões e experiências minhas, às vezes eles até brigavam comigo, que eu não saia da igreja, porém nunca negaram de que eu fizesse algo. Lembro de quando fui convidado em cima da hora para fazer um acampamento no Mato Grosso do Sul, e eu não tinha o dinheiro para ir, pedi para meus pais, eles brigaram comigo, mas, no outro dia quando acordei o dinheiro que eu precisava estava em cima da mesa. Hoje compreendo que de alguma forma há a participação deles no seguimento da minha vocação. Já a religiosidade da cidade influenciou muito, pois havia muitas oportunidades de “estar” na igreja e servir, e isto fomentou ainda mais o meu anseio de auxiliar os outros, servir a Deus e aos irmãos. Sou grato por beber de uma cidade com grande religiosidade e fervor.

Conte sobre a sua formação.

A formação é bem completa e complexa. Nem só de rezar vive um seminarista, hehe. Muitas pessoas ainda possuem dificuldades de entender tudo que a nossa formação abrange. Primeiramente, claro, a formação religiosa, a vida de oração, os documentos da igreja, as devoções e tudo aquilo voltado à vida de fé. Temos também toda a parte intelectual, no meu caso já sou formado em Filosofia. Arriscamos em aprender um pouco de latim, inglês, espanhol. Também temos a parte de contato com a música, as artes. Aprendemos a fazer todo e qualquer tipo de tarefa doméstica, trabalhos externos como roça, jardim, horta. Possuímos também o contato com a formação humana, terapias, grupos de reflexões. Temos contato com o povo através dos trabalhos pastorais realizados nas comunidades. Praticamos atividades físicas, e por aí em diante. A todo momento estamos sendo formados e aprendendo a formar também. O seminário é uma escola completa de aprendizado. 

Qual a expectativa para a primeira profissão religiosa dos votos de pobreza, obediência e castidade? 

As expectativas são as melhores possíveis. Tenho trabalhado e me empenhado muito para vivenciar e assumir este estilo de vida, afinal já se foram 6 anos de preparação. Quando iniciamos o caminho vocacional achamos que sempre irá demorar chegar, porém o tempo passa depressa, e tem chegado a hora de firmar perante Deus, meus superiores, a toda a Igreja e a mim mesmo o desejo de continuar a viver a minha vida de maneira mais radical, através dos conselhos evangélicos. Desejo ser fiel ao que professarei, para tornar minha vida um testemunho vivo da graça de Deus, pois se cheguei até aqui é por graça Dele e do auxílio de Nossa Senhora de Fátima, a qual cultivo minha devoção mariana.

Qual a próxima etapa da formação?

A próxima etapa é o Tirocínio. São dois anos de estágio, e pode acontecer em diversas áreas e localidades onde a nossa congregação está presente. Eu fui designado para estar na comunidade do seminário Sagrado Coração de Jesus, em Corupá. Lá funciona atualmente a sede provincial. Minha função lá como Frater será fazer comunidade com os demais religiosos que residem lá, e auxiliar naquilo que for preciso, tanto na questão de trabalhos mais administrativos quanto pastorais. É ainda uma grande surpresa, estou animado para vivenciar esta etapa.  

Fiquei à vontade para convidar o povo guabirubense para participar da missa.

A todo povo guabirubense, fica o convite para participar deste momento tão especial em minha vida e também da minha comunidade e cidade. Tenho certeza que já recebi várias orações, de tantas pessoas que nem por vezes nem tenho conhecimento, mas tenho certeza que a minha vocação é resultado de um povo que reza. Por isso, minha eterna gratidão. Aos que puderem se fazer presente, serão bem vindos. E aos que não puderem estar de forma física, logo será disponibilizado pelas redes sociais o link para acompanharem de forma virtual. Que Deus abençoe a cada guabirubense, povo generoso e de muita fé.

Outras informações importantes que eu não tenha perguntado?

Em relação ao custeio dos estudos e despesas:

É preciso fazer uma contribuição para o seminário, é estipulado um valor fixo por ano, para auxiliar na despesa da casa. Juntamente com isso, temos todas as despesas de roupas, produtos de higiene, materiais necessários, despesas com remédios, consultas. Toda esta parte fica sob responsabilidade do seminarista e da sua família. Graças a Deus, quando entrei para o seminário consegui o auxílio de benfeitores que generosamente durante estes 6 anos fizeram o pagamento de todo o valor necessário que é preciso pagar para as casas de formações em que já passei, e sempre recebi ajuda de pessoas que estão dispostas a auxiliar com as demais despesas. Hoje posso afirmar que tudo que tenho é fruto da providência divina, que de alguma forma toca o coração das pessoas e as fazem contribuir com as diversas despesas que eu e tantos outros seminaristas temos. Por isso, volto a dizer que sou muito grato a tudo que Deus me deu, ele nunca deixou que faltasse algo para que eu pudesse continuar a caminhar. A cada um que de alguma forma já auxiliou para eu chegar até aqui, meu muito obrigado. 

 

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