Igual à pessoa que o faz, cada Pelznickel tem características únicas. As roupas são feitas de folhas, palha, ou a tradicional barba de velho, que reveste a maioria. Alguns mudam a aparência todo Natal, outros só a aperfeiçoam. Os modelos são variados e a criação fica por conta de cada um. Para Everton Gamba, 26 anos, a montagem do traje é um processo fascinante, detalhado, e que leva mais de uma semana para ser concluído.
Everton é jovem na idade, mas já acumula muita experiência como Papai-Noel do Mato. Ele vive o personagem desde os 11 anos, uma parceria que surgiu com o amigo Denilson Goulart e se mantém até hoje. Simpático, Everton tem um sorriso cativante, daquele que te faz sorrir junto, e conta as histórias como Pelznickel em meio a gargalhadas. Uma presença tão divertida que fica difícil imaginá-lo assustando alguém. Mas ele assusta, e como!
Quando Everton montou a primeira roupa, a Sociedade do Pelznickel tinha uma média de dez a 15 membros. “A gente sempre gostou da tradição, então eu e o Dede fizemos uma roupa e passamos a sair na rua. Aí o Ivan, que é da sociedade, soube e nos convidou para participar”, relata. Ele e Denilson entraram para o grupo um ano antes da abertura da PelznickelPlatz e também contribuíram para a construção da casa. Atualmente, a sociedade conta com quase 60 Pelznickels, pelo menos quatro vezes mais do que naquela época, e desde lá, Everton é um dos mais cuidadosos com a composição do traje.
O processo começa em novembro, um mês antes do evento, quando ele reúne todo o material que irá usar. O amigo Denilson participa junto e monta a própria roupa, mas a técnica de Everton, é só dele. São sacos e sacos cheios de barba de velho, que depois de tratadas e separadas, transformam-se no figurino. “Todo ano eu refaço a roupa praticamente do zero. Eu tiro as barbas de velho que estão secas, separo penca por penca e depois ajeito as barbas de velho novas” explica. Falando assim, parece tranquilo, mas a atividade dura vários dias.
Para começar, Everton separa a barba de velho em pencas, como ele mesmo chama, e pendura todas, uma a uma, no varal. Ele molha e arruma as pencas diariamente, por mais ou menos, uma semana, para que fiquem uniformes e “assentem” bem na roupa. “O processo é chato e demorado, mas eu faço para ficar bonito”, ele justifica. Nesse meio tempo, os elementos da máscara também recebem reparos. “Eu colei o chifre com Durepoxi anos atrás e ele ainda fica bem rígido. Acho que devia ser propaganda da marca porque esse chique já deu cada paulada…”, relembra, entre risadas.
Depois da barba de velho pronta, começa a amarração. Everton prende as pencas em uma espécie de colete, distribuindo-as para que ele fique coberto da cabeça, aos pés. Nessa hora é um alinha o comprimento daqui e ajusta a estrutura de lá que leva o dia todo, até chegar ao resultado que ele deseja. Então, com tudo feito, é só esperar pelo dia do evento para vestir os mais de 20 kg que o traje pesa no final. “Aqui, o Projeto Verão chama Projeto Pelznickel. Precisa pegar no tranco para correr com essa roupa”, fala.
Everton ressalta que a produção é diferente para outros Pelznickels, e que cada um faz da forma que se adapta melhor. “Tem pessoas que se reúnem, mas a montagem é sempre à mão, bem artesanal. Quem entra na Sociedade, já tira diploma de artesão junto”, diz. E todo esse trabalho, ele justifica do jeito mais simples: “é para manter a cultura da cidade”, revela.
Fora do Pelznickel, Everton é um apaixonado por fotografia e transformou o hobby em profissão. “Sempre gostei de fotografar, de olhar o mundo em forma de paisagem. Gosto de viajar, gravar momentos, acho importante registrar a história,” diz ele. Palavras certeiras de um Pelznickel que ficará para sempre registrado na memória de Guabiruba.