Este ano foi diferente. Ele percorreu engaiolado e sentado o trajeto da rua Brusque durante o desfile de natal de Guabiruba no dia 30 de novembro. Enquanto seus colegas Pelznickels chicoteavam o chão, pulavam, interagiam com crianças, jovens e adultos, ele permanecia preso e sentado. Nem por isso estava menos assustador: chifres, barba de velho e rosto aterrorizante mirando o público. Poderia parecer o mais perigoso de todos os Pelznickels transportado entre grades.

Por debaixo daquelas vestes, porém, um homem extravasava em lágrimas a emoção não contida dentro de si. Por fora era o temido Pelznickel, por dentro o jovem eletricista Anderson Rubiki, de 32 anos, que um ano antes havia lutado sua pior batalha e conquistado sua maior vitória: a vida.

Um aneurisma na aorta abdominal, algo surpreendente para sua idade já que é comum dar em idosos, resultou em sete cirurgias. Uma delas durou mais de seis horas e os próprios médicos pensavam que o tinham perdido. O episódio foi apenas o início de uma série de complicações, idas e vindas de hospitais, comas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), hemorragias, isolamento, trombose, 20 kg a menos e a amputação de uma perna.

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Por isso, aquele momento no desfile de Natal, sentado e na gaiola, tinha um significado especial, ainda mais quando sua Christkindl, Emanuela Schmidt Rubick, e o filho Mateus, de oito meses, vieram ao seu encontro. O homem no Pelznickel chorou compulsivamente, enquanto o Pelznickel do homem continuou categoricamente seu trabalho. “Gratidão era o que eu sentia, era a palavra que surgia”, revela.

Início na Sociedade Pelznickel

O episódio ficará para sempre marcado nas recordações de Anderson, que em 2007, num Bali Hai, conheceu Emanuela, professora de Matemática. Ambos moravam em Guabiruba, mas foi lá que o destino dois dois se cruzou. Olhares, conversas e o namoro iniciou.

Em 2010, em um evento de entrega de presentes ele se vestiu de Pelznickel para animar as crianças e aí tomou gosto pelo personagem e procurou a Sociedade Pelznickel para também ser um Papai Noel do Mato. Logo a família toda começou a se envolver. “Como a gente sempre falava em casa, o meu sogro começou a se interessar e ele ia junto nos desfiles para ajudar a arrumar os Pelznickels”, conta Anderson. “No início eu era só ajudante da Christkindl, ficava só colocando doces para elas”, afirma Emanuela, que hoje já é Christkindl oficial da Sociedade Pelznickel juntamente com Aline Tais Siegel, Larissa Nuss, Patricia Goetz e Lais Schaefer.

Anderson diz que foi muito bem aceito na Sociedade e elogia a iniciativa. “Cada bairro tinha seus Pelznickels, até a forma de fazer a roupa é diferente e a Sociedade veio para unir e fortalecer essa tradição”, enaltece.

União entre o Pelznickel e a Christkindl

O Pelznickel Anderson e a Christkindl Manu se casaram em 2017 com direito a noivinhos personalizados no bolo e uma festa pra lá de especial entre amigos e familiares. Construíram uma casa no bairro São Pedro e decidiram ter o primeiro filho.

Dois dias antes de saber que seriam pais, as dores abdominais levaram Anderson a procurar um médico, porém, demorou bastante até identificarem realmente o que estava ocorrendo com ele. As dificuldades com a saúde iniciaram em setembro de 2018, em outubro ele já estava em Florianópolis fazendo a primeira cirurgia, que ao invés de durar menos de uma hora, conforme programado, demorou mais de seis horas.

Depois dessa, mais seis cirurgias foram feitas. A última delas, no dia 6 de dezembro, Dia de São Nicolau. Nesta data, a Christkindl Manu (nascida em 25 de dezembro) precisou tomar uma decisão importante. A amputação ou não da perna do seu Pelznickel. Ela decidiu por ele, por ela e pelo bebê que já crescia na barriga. Decidiu cortar em prol de mais saúde. No dia seguinte é que contariam para Anderson, mas ao acordar ele já sabia. Nos seus sonhos no coma alguém lhe havia contado.

Próximo do Natal, a família chegou em casa. Amigos e familiares haviam preparado toda a decoração de Natal da residência. A ajuda tanto dos amigos da Sociedade Pelznickel, como do Emaús e outros grupos que os dois participam foram intensas em campanhas, inclusive para a compra da prótese que ele usa. “Tive que aprender tudo de novo”, recorda, enaltecendo a fé que sempre teve em todos os momentos.

Anderson segue forte com prótese em uma das pernas e uma cicatriz na outra, marca de uma queda de bicicleta quando criança enquanto fugia do Pelznickel. Ele brinca que o filho Mateus ainda não entregou a chupeta para o Papai Noel do mato, mas que já foi na Pelznickelplatz e quando incomoda o pai diz que chama o Pelznickel.

A família segue ainda mais unida e forte. É provável que resida na doçura e pureza da Christkindl, a força do Pelznickel. Ela aprendeu a ser forte com ele e ele mais forte ainda ao lado dela.

 

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