Nove mil pessoas passaram pelo bairro Aymoré, em Guabiruba, nesta Quinta e Sexta-Feira Santa, 28 e 29 de março, para acompanhar as apresentações da 24ª edição do espetáculo Paixão e Morte de Um Homem Livre.
Realizado pela Associação Artístico e Cultural São Pedro (AACSP), o espetáculo, que é considerado o maior a céu aberto do Sul do Brasil, teve a participação de mais de 500 voluntários que, há mais de um ano, doam seus talentos em prol da evangelização.
O presidente da AACSP, Sérgio Valle, celebra mais uma edição de sucesso da peça, que neste ano, teve recorde de público na quinta-feira, primeiro dia de apresentações. “Na sexta-feira sempre temos casa cheia, os 4,5 mil ingressos para este dia esgotam rapidamente, mas desta vez conseguimos ampliar muito a plateia do primeiro dia”, diz.
De acordo com ele, em relação à edição anterior, em 2022, a apresentação de quinta-feira teve um crescimento de mais pessoas na plateia. “Batalhamos muito nas últimas três semanas para ter um público maior do que estávamos registrando na quinta-feira e conseguimos. Foram mais mil pessoas que assistiram ao teatro e, dessa forma, o projeto alcança os seus objetivos, que é evangelizar ainda mais, levar a Palavra de Deus a mais pessoas. Isso é muito gratificante para toda equipe da associação”.
Produzido integralmente por voluntários, o presidente da entidade destaca o comprometimento e o trabalho de cada membro da equipe, que contribuiu para mais uma edição histórica do Paixão e Morte de Um Homem Livre. “O voluntariado é a alma desse projeto, é o que faz a associação existir. Se não tiver pessoas se doando em favor da causa, de um objetivo comum, não existe a associação. A diretoria só tem a agradecer a todo elenco, equipe técnica, coordenações: sem a dedicação de cada um, nada disso seria possível”.
Neste ano, a estrutura do Paixão e Morte contou com novidades, como os telões de LED, que proporcionaram ao público melhor visualização dos detalhes das cenas, além da praça de alimentação e a loja de souvenirs da associação. A venda on-line de ingressos também foi realizada pela primeira vez. “A venda por aplicativo foi um sucesso, o sistema de entrada funcionou bem. O telão, uma das principais novidades, também funcionou, e o público conseguiu visualizar melhor. Colocar tudo isso para funcionar não é algo simples, mas conseguimos. Foi tudo além do esperado”.
Visando a acessibilidade, pelo telão, o espetáculo foi traduzido na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e as duas apresentações também contaram com a áudiodescrição para deficientes visuais.
Crédito do vídeo: Djalma Franco Imagens Aéreas
Milagres de Jesus e a fé das mulheres
A cada edição, a história da morte e ressurreição de Jesus é encenada de uma perspectiva diferente. Já na abertura, a surpresa: o público acompanhou encantado a representação da criação do mundo, com o surgimento da luz, sistema solar, todas as espécies de plantas, animais e a humanidade com Adão e Eva.
Neste ano, o espetáculo foi construído a partir da narrativa dos irmãos Lázaro, Marta e Maria. Foi através deles, que alguns milagres de Jesus foram apresentados, destacando o poder da fé das mulheres.
Ao longo de 2h30 de espetáculo, o público pode acompanhar a representação do que é retratado no Evangelho de Lucas, quando Jesus ressuscita o filho único de uma viúva; a cura da sogra de Pedro, relatado nos Evangelhos de Marcos, Lucas e Mateus; e a expulsão de sete demônios que atormentavam Maria Madalena, presente também no Evangelho de Lucas.
As cenas da Santa Ceia, prisão e julgamento até chegar à crucificação e morte de Jesus também emocionaram o público, que acompanhou cada detalhe ansioso pela ressurreição, principal fundamento da fé cristã. Com show de fogos, elenco e toda a equipe técnica no palco, as duas apresentações encerraram sob muitos aplausos da plateia e a certeza de missão cumprida.
“O sentimento é de gratidão por uma equipe tão incrível, desde a parte técnica, elenco, diretoria, apoio, que trabalharam juntos para fazer mais uma edição de sucesso. Acredito que chegamos ao objetivo de emocionar e encantar compondo uma história que foi pensada com muito carinho. Conseguimos unir fé e arte”, destaca o dramaturgo e diretor do espetáculo, Marcelo Carminati.
Espectadora fiel
Na quinta-feira, 28, quando os portões da igreja São Cristóvão abriram para o público, cerca de duas horas antes do espetáculo, dona Julita Machado, 72 anos, já esperava ansiosa no primeiro lugar da fila. Acompanhada da filha, Raquel Paulini, e do genro, Leandro, a moradora de Brusque estava pronta para escolher o melhor lugar para assistir ao espetáculo. “Toda vida eu venho cedo para pegar um bom lugar”, diz. Ela já perdeu as contas de quantas vezes veio assistir à peça e pretende continuar na plateia ainda por muito tempo. “Venho desde sempre. Não perco uma apresentação. Enquanto eu puder, eu venho, com certeza”, garante.
O trabalho realizado pela Associação Artístico e Cultural São Pedro e pelos voluntários na realização do Paixão e Morte de Um Homem Livre tem se tornado inspiração para muitos grupos teatrais que encenam a história da morte e ressurreição de Jesus Cristo pelo estado. O casal Patrícia e Diogo Carvalho veio da cidade de Schroeder (SC), distante pouco mais de 100 quilômetros de Guabiruba, para conhecer os bastidores do teatro. “Temos um grupo de teatro há 11 anos. Também fazemos a apresentação da Paixão de Cristo, e o trabalho realizado aqui em Guabiruba é uma grande inspiração. A ideia foi ver a preparação, os bastidores, e levar um pouquinho de aprendizado para o nosso, que é pequeno ainda, tem cerca de 60 voluntários”, diz Patrícia.
Apoio
Para acomodar os 9 mil espectadores divididos nos dois dias de apresentações, a AACSP contou com uma equipe de apoio formada por 20 pessoas. Eles foram os responsáveis por organizar a entrada do público e a estrutura disponível para assistir ao espetáculo.
Coordenada pelo representante comercial Ingo Valdir Fischer Júnior, 52 anos, o trabalho da equipe inicia ainda no início da semana, com a organização das 4.500 cadeiras de acordo com as orientações de segurança do Corpo de Bombeiros.
Nos dois dias de apresentações, a equipe se dividiu na limpeza das cadeiras e acomodação do público nos lugares e também fez o trabalho na bilheteria, liberando a entrada dos espectadores. “Na quinta-feira depois que encerrou, organizamos as cadeiras e limpamos uma parte, e na sexta-feira chegamos um tempo antes para limpar a outra parte e deixar tudo pronto. Depois que a apresentação de sexta é finalizada, nós retiramos as cadeiras e deixamos o pátio limpo para entregar como pegamos”, destaca.
Para ele, que coordena a equipe de apoio a cinco edições, a sensação após tudo finalizado é de dever cumprido. “É muito gratificante. Temos nossos afazeres do dia a dia e participar do espetáculo requer tempo para se doar. Às vezes até penso em dar um tempo, mas está no sangue. Quando chega o ano do espetáculo, já começo a me movimentar para participar. Nada melhor do que servir a comunidade em algo que leva o nome de Jesus”.
Ator estreante
Enquanto se transformava em gladiador nos bastidores, o fisioterapeuta e professor de defesa pessoal krav maga, Wilfredo de Jesus Perales Ydrogo, 26 anos, não escondia a ansiedade para subir ao palco do Paixão e Morte pela primeira vez. Natural da Venezuela, ele mora em Guabiruba há três anos, e ficou sabendo do espetáculo pelos alunos da escola em que trabalha.
“As crianças me falaram do teatro e me motivaram. Mostraram vídeos da edição anterior e me chamou muito a atenção, então decidi ser um voluntário e participar”, conta.
Encantado com toda a organização e o trabalho de cada voluntário, o venezuelano não esconde o orgulho de poder fazer parte desta história. “É algo que enche o coração de muitas pessoas. Nos faz lembrar que Jesus morreu por nós, pelos nossos pecados. Fiquei um pouco nervoso, mas procurei dar o meu melhor em cima do palco”.
Famílias no palco
Entre os mais de 500 voluntários do elenco está a família da guabirubense Bianca Kohler Olinger. Ela e o marido Rafael Luiz Olinger já subiram ao palco, porém nesta edição a participação se tornou ainda mais especial pois as filhas Sofie e Malu, de 6 e 3 anos, estrearam no espetáculo. “Assim que surgiram as vagas para o elenco, falei para o Rafael que iríamos participar e incluir as meninas. No início foi um pouco complicado os ensaios, por conta da rotina, mas conseguimos administrar muito bem e elas amaram a experiência”, lembra.
Bianca esteve na peça com as pequenas, fazendo parte do povo. Para ela, até o mais simples dos papéis do teatro é importante, mesmo que seja em meio à multidão, cada um faz a diferença para o espetáculo. Para a família, a função de todo o elenco é de encenar da melhor forma possível a história de Jesus e tocar o coração do público que assiste. “Assim como foi dito em um momento de oração com o elenco, o mais importante é poder levarmos para as pessoas a história de Jesus, assim como Ele mesmo falou: ide e evangelizai. E é essa a nossa missão com o Paixão e Morte, tenho certeza que muitas pessoas saíram daqui transformadas. Mesmo que a história seja a mais conhecida da humanidade, assistindo o espetáculo você é tocado de uma maneira diferente, toca o seu coração de uma maneira como nunca antes fora tocado”, afirma a guabirubense.
Os integrantes da família Baumgartner também subiram ao palco juntos. Edison e Patrícia participam desde o ano 2000 do Paixão e Morte, desde quando entraram para o grupo de danças da associação. De lá para cá, já passaram por várias funções: Patrícia começou fazendo papel de povo, depois atuou por vários anos na equipe de maquiagem e figurino de Jesus. Edison foi soldado e trabalhou na equipe de contrarregras. Agora, eles retornam ao palco acompanhados dos filhos, Julia, 7 anos, e Bento, 6 anos. “Ficamos de fora da edição de 2022, e agora decidimos voltar e trazer as crianças. Mostrar para eles o caminho. São o futuro desse trabalho tão bonito”, destaca a mãe, orgulhosa.
Edison afirma que no começo, até relutou em participar, devido a toda dedicação necessária com os ensaios, que aconteciam todos os domingos, desde fevereiro. Mas no final, acabou cedendo e não se arrepende da escolha que fez. “Só gratidão. Vale a pena todo minuto. Cada vez é uma emoção diferente”, diz. “É algo que não fazemos por nós, fazemos pelos outros, para evangelizar e contribuir para que todos tenham um pouco desse sentimento”, completa Patrícia.
Na quinta-feira, todos os voluntários e equipe técnica participaram de um momento de reflexão sobre a Paixão de Cristo, com o músico e pregador do acampamento Juvenil de Botuverá e Guabiruba Maikew Lucas. Já na Sexta-feira Santa, a solenidade da Paixão e Morte de Jesus, antes da apresentação, foi presidida pelo pároco da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padre Marilton Nuss, e concelebrada pelo padre Zaqueu Suczeck, reitor do Convento Sagrado Coração de Jesus, com momento de contemplação à Santa Cruz, fortalecendo a fé dos participante desta edição.
Saiba mais
A 24ª edição do espetáculo Paixão e Morte de Um Homem Livre é uma realização da Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP), com apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal, com patrocínio de Havan, Stock Archer, Kohler & Cia, Guabifios e Hipertêxtil, e patrocínio da Prefeitura de Guabiruba por meio da Fundação Cultural. Mais informações a respeito desta edição está disponível em www.aacsp.com.br ou @aacspguabiruba (Instagram).